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Da minha janela



O que vejo da minha janela foi mote de várias abordagens de entidades culturais, e outras, que nos acompanharam neste período de quarentena, incentivando e motivando positivamente.


Da minha janela vejo a rua, vejo também a minha casa e vejo-me a mim, pois o meu olhar pode ser para fora ou para dentro.


Vejo o passado, o presente e desejo ver o futuro.


A pandemia veio fechar-nos e fechar todos os espaços, e nestes também os dos Museus que se queriam cada vez mais abertos e dialogantes e se viram parados, e mudos, mas veio também fazer-nos encontrar novas formas de existir e de responder, abrindo importantes espaços de reflexão e de reinvenção, de novas vozes e paradigmas. Os Museus pensaram, e criaram alternativas de programação e de comunicação fazendo-se chegar o mais perto possível dos seus públicos, que agora estão à distância e não dentro dos seus espaços como sempre acontecera ao longo do tempo.


São agora tempos de escrever uma nova história.


Da minha janela deixo entrar o Sol através de uma obra de arte, proposta lançada pelo Museu Calouste Gulbenkian para o Dia Internacional dos Museus – Uma obra para deixar entrar o Sol. [1]


Neste desafio repensamo-nos, convidamos quem trabalha no Museu, perto das obras, independentemente da sua função ou cargo, no ano em que o tema do DIM se centra no papel dos museus como espaços para a igualdade, inclusão e diversidade, a escolher uma obra para se relacionarem e darem uma resposta à situação insólita que atravessamos, uma mensagem de luz e otimismo.


Responderam múltiplas vozes e opiniões, de pessoas diferentes, com vidas e visões diferentes, mas para quem a Arte faz parte da sua rotina do dia-a-dia, criando assim um dos momentos de uma nova programação online, frescos de novidade, num museu que se quer inovador, e se assume como lugar de transformação, de debate, de visibilidade e de empoderamento.


A obra que escolhi para responder a estes tempos de incerteza e confinamento foi o Petit Flamenco da artista Sónia Delaunay. [2]


Uma obra de pequeno formato, um guache sobre papel, rica de cor, textura, forma, e ritmo, que parece estar inacabada, como as nossas vidas que construímos a cada momento, e que foi um esboço, um projeto, um estudo para uma obra maior que a artista viria a fazer e que para mim é um convite claro a dançar. É uma obra que consigo ouvir, na qual consigo sentir o movimento e o pulsar da vida.


Depois de todo este tempo fechada dentro de mim e dentro de casa, olhando para fora e para dentro da minha janela, é uma obra que me traz alegria, uma obra cheia de ritmo, de expressão, uma obra em transformação, como cada um de nós e como todos nós.


Como eu mais pessoas se juntaram neste desafio criando respostas diversas e expressando ideias e sentimentos através de uma das formas mais antigas de comunicação – a Arte, e do Museu para o Mundo, de uma micro escala para uma macro escala.


Todos nós, independentemente da nossa formação, da nossa profissão, dos nossos percursos de vida com as suas dúvidas e inquietações, nos conseguimos relacionar com a Arte através das nossas interpretações pessoais, do que somos e fomos construindo com as nossas vivências e experiências, e na diferença das interpretações que geramos, está a riqueza da relação com a Arte e o poder que esta tem de nos alimentar, elevar, fazer sonhar e pensar, intrigar e questionar, rir e chorar entre tantas outras.


A Arte é uma expressão universal e deixa o Sol entrar através das muitas janelas que se abriram neste desafio de um Museu que convida a entrar, experienciar e partilhar.


“Este ano, respondemos a um tempo de incerteza e de confinamento procurando novos espaços de reencontro e partilha. Continuamos juntos!”, Museu Calouste Gulbenkian.

 

1-“Em tempo de confinamento o desejo de sair e reinventar o horizonte é grande e urgente. Poderão as obras de arte do Museu Gulbenkian constituir janelas para a saída deste confinamento? Poderão curar o aborrecimento, os males de amor, a inquietação, a incerteza? Poderão propor paliativo para o medo? Propor ventos de mudança? Visões de esperança? Poderão inspirar uma transformação?

Consultámos vários profissionais do Museu que lidam de perto com as obras do acervo e pedimos-lhes que escolhessem uma delas para enfrentar a incerteza, o aborrecimento ou, simplesmente, propor um vento de mudança e de otimismo.” In https://gulbenkian.pt/museu/agenda/uma-obra-para-deixar-o-sol-entrar/


2- Chanteur Flamenco (dit Petit Flamenco), 1916, Guache sobre Papel, 36,1 x 42,1 cm, Inv.DE78, Coleção Moderna, Museu Calouste Gulbenkian.

A autora utiliza o Acordo Ortográfico.


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