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Chelsea Hotel #2



Poucos têm notado como uma real vantagem sobre as demais áreas de estudo do comportamento humano (não importa ainda aqui distinguir Indivíduo/ Colectivo nem Passado/ Presente) o facto da actual Arqueologia (o Pensamento da Arqueologia do Actual Território Português) se assemelhar, no Plano Teórico-Epistemológico, à eponímica metáfora de um Albergue Espanhol.


Expresso de uma maneira menos prosaica: em virtude de uma moratória necessidade de confirmação no anfiteatro da Ciência enquanto par, com Pensamento e Método próprios, dificilmente poderia ser de distinta forma. Id est., se alguns – como eu – se honram considerar Arqueologia aquilo que era praticado em Lisboa – salvaguardados anacronismos óbvios – pelo menos desde o último quartel do século XVIII, um outro agente mais epistemologicamente activo serve de hospedeiro a esta Estalagem.


Aqueles que nasceram c. do Ano BinClarkeii (como eu) estão no cabo de todos os balanços dos cinquentas. Em suma, o Maio de 68 do Processualismo foi ontem e o discurso historicista dos que o precederam sem alinhar na New Achaeology (muitos francamente respeitáveis) contamina de forma subliminar mas gritante (amiúde irreflectida) monografias, artigos e notícias de carácter arqueológico.


É verdade: andamos todos por cá; no vestíbulo da recepção, nos aposentos e na sala de refeições: historicistas, processualistas, contextualistas e toda a sorte de post-pós-modernistas e associados, para simplificar uma lista de página inteira. Uma diversidade assaz salubre que só o não é quando não há pensamento (por si só uma parcela de hóspedes que não é de desmemoriar, tem razão Carlo Cipolla).


É esta diversidade um benefício que não devemos depreciar. A saúde mental de uma área e estudo pode bem medir-se pela capacidade de gestão do antagonismo de pensamento dentro de um quadro de reciprocidade, abertura e empatia. Discordo em absoluto da ideia de uma conciliação porque é no confronto benfazejo das diferenças que nascem as sínteses, os pactos de não agressão e as narrativas do Passado e do Presente, do Colectivo e do Indivíduo.


O primado intelectual do Indivíduo – livre, comprometido e receptivo – é o que permite a essa mulher ou a esse homem caminhar entre duas barricadas (as nossas, assumamos) e intuir, nem que seja por um breve instante, este odor a jacarandás e maresia misturado com o cheiro a pólvora do cúmulo que assentou praça sobre a nossa cidade. Nunca me esqueço que Lisboa pode cair entre o tempo de atravessar a rua de um passeio para o outro.


É por isso que me agrada tanto a barulheira pueril, brilhante e afinal de contas acolhedora do nosso hispano albergue.




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