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Artivismo – reflexões da arte sobre a sociedade


Desde sempre a arte funcionou como espelho da sociedade, acompanhando cada contemporaneidade ao longo dos tempos, deixando registado na sua obra os diferentes momentos vividos, com intensidade e questionamento, como um diário pessoal da humanidade, desde que o Homem se pensou como tal.


Também desde sempre, a arte esteve ao lado de grandes mudanças sociais, acompanhando pensamentos e dúvidas, ajudando a pensar e a questionar crítica e assertivamente as diferentes realidades. Pela mão dos artistas a arte intervém, muda e transforma, criando novas possibilidades de fazer o futuro e de construir realidades, cumprindo uma função social e até politica.


Mais recentemente, a partir das décadas de sessenta e setenta do último século, artistas com forte pensamento ativista, e que o refletem nas escolhas estéticas e plásticas do seu trabalho, têm vindo a ser enquadrados numa nova vertente de expressão a que se tem chamado de Artivismo e que adquire nos dias de hoje uma afirmação mais visível e mediática, lançando novos eixos de reflexão.


Estes artistas abordam com as suas obras questões sociais da atualidade, com que temos contato diariamente na comunicação social, e a sua produção tanto se enquadra num sistema validado de galerias de arte, exposições, museus e até leilões, como ocupa as ruas e o espaço público.


Trabalham sobre questões sociais com tensões, como os direitos humanos e a cidadania, lembrando-nos das desigualdades económicas, raciais, de género, e outras.


No período atual que vivemos temos assistido a um constante ataque ou negação dos direitos humanos mais fundamentais, como o direito à vida, liberdade e à segurança pessoal, direito de livremente circular e escolher a sua residência e de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu (explícitos nos artigos 3º e 13º da declaração universal dos direitos humanos) e a arte volta a espelhar esta realidade oferecendo-nos uma multiplicidade de visões sobre estes assuntos.


Neste contexto partilho exemplos de dois artistas, dos muitos possíveis, que ilustram de forma interessante e assertiva este ponto.


Por um lado Banksy, polémico e enigmático artista, que recentemente utilizou capital próprio, obtido com o seu trabalho sobre a crise dos imigrantes naufragados no Mediterrâneo, para ajudar a combater este problema financiando um navio, o Louise Michel, cedido à capitã Pia Klemp para esta poder continuar a ajudar a resgatar pessoas em necessidade.


Este navio apresenta uma intervenção plástica da autoria do artista onde surge a representação de uma jovem com um colete salva-vidas segurando uma boia em forma de coração, recriação de uma das suas obras mais emblemáticas - Balloon Girl, 2002.


© Ruben Neugebauer

E esta imagem remete-me para outras obras de um outro artista: a instalação de 14 mil coletes salva-vidas, recolhidos na ilha grega de Lesbos, nas colunas da Konzerthaus (Casa de Concertos), em Berlim, onde ocorre o Berlinale (Festival Internacional de Cinema de Berlim), e F LOTUS, Instalação com 201 flores de lótus feitas com coletes salva-vidas utilizados por refugiados em processos de procura de abrigo, no palácio da Belvedere Viena, ambas da autoria de Ai Weiwei.


© John MacDougall © AP

Ambos focam o seu trabalho artístico em dar visibilidade a situações emergentes da sociedade, desafiando-nos a pensar com eles, interpretando as suas obras e relacionando-nos com estas e com as questões que elas nos trazem.


O Artivismo, enquanto expressão da arte, assenta num posicionamento cultural do pensamento crítico e criativo, que luta de forma ativa e consciente contra uma certa apatia social em que vivemos, num mundo excessivamente mediatizado, em que tudo é global e parece muito distante da nossa realidade pessoal, e onde acaba por ocorrer um efeito de desresponsabilização social, e envia-nos contantes alertas e chamadas de atenção numa linguagem de intervenção direta que propõe transformação e exige medidas, numa esperança de modificação social.

 

A autora utiliza o Acordo Ortográfico.


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