Nome completo: Adelaide Manuela da Costa Duarte
Local e ano de nascimento: Figueira da Foz, 1974 Formação académica: Doutoramento em Museologia e Património Cultural na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Cargo actual ou último cargo desempenhado: Investigadora de Pós-Doutoramento no Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa e Coordenadora executiva da Pós-Graduação Mercado da Arte e Colecionismo, no mesmo Instituto.
Como foi o seu percurso profissional? Por onde começou e por onde passou?
Depois me licenciar em História da Arte, na Universidade de Coimbra, passei por alguns museus de ciências e de arte. Primeiro, estagiei no Museu de Aveiro e, ao fim de poucos meses, fui chamada para uma entrevista no Museu Nacional da Ciência e da Técnica Dr. Mário Silva, em Coimbra (tinha enviado candidaturas espontâneas para a maioria dos museus deste país, não sei com que expectativa, considerando que só se entra por abertura de concurso!). Trabalhei naquele estranho museu como bolseira de investigação científica durante seis anos. Mas recordo que foi uma aprendizagem fantástica porque tive a sorte de me rodear de uma equipa maravilhosa que ainda hoje me deixa saudades! Alguns dos meus maiores amigos nasceram ali, no meio daquela sucessão de exposições que fizemos, tantas vezes a contrarrelógio. A minha dissertação de mestrado ainda foi sobre a fundação deste Museu e as peripécias que envolveram o seu criador, o Prof. Mário Silva, um aluno da célebre Madame Curie. De seguida, com a extinção do Museu, retomei os museus de arte, a minha formação de base. Trabalhei no inventário das coleções de pintura, escultura, gravura e desenho do Museu Municipal de Vila Franca de Xira, antes de me dedicar à investigação sobre coleções de arte contemporânea privadas, já no âmbito do doutoramento, que também defendi na Universidade de Coimbra.
Onde está hoje e o que faz? Hoje continuo a trabalhar sobre coleções de arte moderna e contemporânea, privadas e institucionais, mas alarguei a investigação a temas do funcionamento do sistema da arte e do mercado da arte, quer em termos globais, quer a nível local (sobre o nosso país). Em termos de enquadramento institucional, sou bolseira de pós-doutoramento, com bolsa FCT, no Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Também coordeno a pós-graduação em Mercado da Arte e Colecionismo, no mesmo Instituto, e sou professora auxiliar convidada no departamento de História da Arte, da mesma faculdade.
Até ao presente e do ponto de vista profissional, qual elegeria como o projecto mais relevante que levou a cabo, para o sector do património?
Tenho dificuldade em eleger um projeto porque participei em vários muito interessantes. Lembro um estudo sobre a Lisboa oriental que me fez percorrer aquela zona quase de fio a pavio; outro sobre a pintora Aurélia de Sousa, que me levou a vários museus à procura da sua obra, especialmente no Porto; e também o estudo sobre coleções de arte contemporânea – aquele que me levou mais tempo a desenvolver! –, particularmente a dificuldade que foi obter documentação para as analisar (por exemplo, os documentos sobre a Coleção Berardo pareciam protegidos pela Lei do Segredo de Estado, e não estavam!).
Agora, ocupa-me um estudo sobre galerias de arte no país, outro sobre a Coleção de Serralves (a história, a proto-história e os seus protagonistas) e, ainda, um assunto que me é muito querido, o de dar a palavra a colecionadores contemporâneos e conhecer as circunstâncias da formação das suas coleções. É um projeto que desenvolvo no âmbito da associação Amigos do Museu do Chiado, e que acontece regularmente no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado. Chama-se “Colecionar Arte. Conversas a partir de coleções privadas”, está a correr muito bem e já prevê a publicação de um livro!
E qual ‘aquele projecto’ que ficou por fazer ou completar?
O Museu Nacional da Ciência e da Técnica Dr. Mário Silva, um projeto museológico penosamente abandonado pelo poder político e pela cidade onde nasceu, Coimbra.
Qual a experiência humana que mais o marcou ao longo da sua vida profissional (colega, chefe, grupo de trabalho)? Acompanhar o percurso de um grande colecionador (prefiro não o identificar), ouvir as suas histórias, testemunhar o seu afeto pelos objetos de cultura e a sua perseverança em fazer diferente no nosso país.
Em retrospectiva, e numa escala de 0 a 10, como classificaria o seu percurso profissional?
Prefiro não me avaliar, embora o faça sistematicamente.
Se voltasse atrás, fazia algo diferente? É-me difícil refazer ou re-imaginar a vida, pensar caminhos que fossem viáveis, mas diferentes daquele que segui, dentro dos constrangimentos normais. Por isso, creio que não fazia nada de significativamente diferente. Além do mais, gosto do que faço e gosto mesmo muito.
Que conselho daria a quem está hoje a iniciar a sua carreira profissional nesta área?
Não largar os sonhos e teimosamente motivar os outros a persegui-los.
O que deseja para o sector do património em Portugal, no presente e no futuro mais próximo?
Boas equipas, boas condições de trabalho e um reforço do apoio da tutela.
As sugestões de Adelaide Duarte:
Citação:“Foi assim que fui dando os primeiros passos no nada. Meus primeiros passos hesitantes em direção à vida, e abandonando a minha vida. O pé pisou no ar, entrei no paraíso ou no inferno”. Clarice Lispector (A paixão segundo G.H., Relógio D’Água, 2013, 64)
Livro: Gertrude Stein, A autobiografia de Alice B. Toklas, Ponto de Fuga, 2017.
Música: Acho que que qualquer uma, que possa ser ouvida nas mesas do Hot Club ou outro clube equivalente! Projecto: Dicionário Quem é quem na museologia portuguesa? (a decorrer)
* O texto desta entrevista foi escrito de acordo com o Novo Acordo Ortográfico.