Agosto começou hoje. Não me perguntem por que razão detesto esta data tanto como a de Finados. Lembra-me a última aterragem em Oman: «This is your captain speaking. We’ll be landing in Muscat in the next 10 minutes. Ground control information: 11:32 PM, 47º C, 93% Humid. [súbito requebro de tom para uma deliciosa ironia autoinfligida] Wish you a pleasant evening…».
Wish you a pleasant evening, Camus, Orwell, Huxley, Cormac McCarthy e – limpas suas adiposas verborreicas metáforas – vá: São João Evangelista. Tínheis, pois, razão sim. Os quatro primeiros: para já; e já o quinto sempre que ocorrem tomadas de Constantinopla, da Bastilha, de Berlim ou das Torres Gémeas. Eis outra mudança de Época e nós todos (humanos e o resto da semelhante bicharada) a palmilhar o quebradiço gelo do atalho lacustre de um longo Inverno de dois lustros entre 14 de Julho (rezando para que seja sempre em modo 9 Termidor) e 18 de Brumário. Que recorrente canseira meu Deus.
Ouvi dizer, num banco de jardim demasiado próximo daquele em que almoçava à sombra de um jacarandá, mas não acredito em nada: que o Conselho de Ministros navega à vista de olho aos escolhos de bombordo em direcção ao camoniano Adamastor que se equilibra aflito, ele também, na borda do prato da Ecúmena que afinal é plana [sim, eu também me rio, mas a real realidade das coisas é que, mau grado o ridículo da ideia, não há nenhuma ciência exacta: descoberta brilhante dos últimos tempos – eureka]; que por falta de meios humanos e por causa da Covid o INE tem luz verde para aceder aos servidores de todas as operadoras e às comunicações de todo o tipo entre todos os cidadãos portugueses para proceder à renovação dos Censos de 2020/21 [insisto: eu também não acredito]; que Plutão não é já um planeta [para mim é]; que a ESO detectou um asteróide do tamanho da Lua que vem por aí na mecha pulverizar a azul, encantatória e diáfana Terra c. de 2300; e, por fim, que o papel salvífico da Cultura/ Património (agregador social, gerador de identidade e empatia num contexto de grave e crescente hostilidade social) é a última prioridade dos governos do tal planeta (este) que afinal é um prato.
É verdade! Escapa-se-me por vezes a memória do imediato. Os tipos que estavam à conversa no banco da frente eram dois velhos muito barbudos e remotamente aparentados, todavia acrimoniosamente inimigos; um de fraque e o outro de casaca. Trocámos contactos. Yesu e Lucefecit continuaram na calhandrice depois de me afastar. Mas descansem: pela primeira vez na vida meti uma cunha. Garatujei no caderno de bolso, arranquei a página e deixei no tabuleiro onde iam jogando ao gamão: «Hey palls, could you rescheadule that asteroid stuff for the next weekend? Please put a word for us with your boss and treat this as you managed Pluto». Todavia confesso manter uma resiliente réstia de esperança no refrão de Nick e Warren que dá título a estas linhas: «Push the sky away».
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