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Planar sobre a História com a Arte como paraquedas




Planar sobre a História e olhar para as suas múltiplas perspetivas tem sido uma constante viagem no projeto LUGAR1, um projeto educativo de participação e cidadania que parte da ideia de LUGAR(es) como vivências do mundo e da arte e da educação artística para explorar questões de cidadania e direitos humanos, trabalhando num currículo de justiça social, antirracista, que promove valores como a empatia, a diversidade e a equidade (OECD)2 .

Neste projeto que parte também do LUGAR de parceria MUSEU-ESCOLA temos explorado História e histórias a partir das obras de arte e das palavras e do fazer do artista3 que o cria connosco, construindo, em conjunto e a muitas vozes, uma visão abrangente e integradora, porque, tal como nos diz um dos alunos que nele participam – “a história é como um puzzle…e a arte ajuda-nos a encontrar as peças”.

Criamos ligações entre diferentes pedaços da História que se encontram espalhados pela arte, pela música, pela dança, pela memória dos nossos familiares e pelas nossas próprias memórias. Juntamos diferentes pedaços em pensamos juntos sobre que histórias estes nos contam, o que conseguimos ver, sentir, descobrir, num pensamento critico, assertivo e construtivo. Juntos num desejo de ver mais, de ir mais além da História nos manuais escolares e nos livros da especialidade. A(s) História(s) que faz(em) história connosco e nas quais nos revemos e encontramos.

Voamos sobre os diferentes territórios com que se escreve a História de Portugal e a História do Mundo e usamos a arte como um paraquedas, que nos permite planar e observar de um Lugar, tranquilo e seguro, temas que inquietam e põe a pensar.

Através da arte e do pensamento artístico, encaradas como uma metodologia, uma experiência aglutinadora e agregadora, a partir da qual se pode gerar conhecimento sobre qualquer tema4 questionamos o mundo e os seus diferentes LUGAR(es) – artísticos, físicos, históricos, emocionais e outros.

Quem escreve a História, escreve-a num determinado contexto, que está impregnado da perspetiva vivida na época a que se refere, imprime as opiniões e pontos de vista vigentes, mas também pessoais. Quem lê e quem vê a História interpreta-a de acordo com os seus olhos, as suas vivências e as suas perspetivas dando-lhe novos contornos, formas e cores. Quem vê e interpreta a História a partir do LUGAR da Arte vive-a e incorpora-a no seu corpo e na sua mente, fixando como partes de si, da sua história.


Numa ideia de pensamento crítico, planando sobre uma visão aberta, abrangente, inclusiva, equitativa do mundo olhamos para um lado e para o outro, para baixo e para cima, procuramos à frente e atrás para trazermos diferentes peças do puzzle a jogo.



























































Perguntando e ouvindo vamos juntando as peças numa ideia de compreensão do passado, resolução de problemas no presente e “construção de novos e melhores futuros”. 5


Passo a passo exploramos hipóteses, testamos teorias, montamos e desmontamos as peças até elas fazerem outros (vários, múltiplos) sentido(s) artísticos, poéticos, históricos e sociais, porque a arte tem um poder transversal, universal e transformador e porque juntos pensamos mais e melhor.


A partir da obra de arte podemos questionar histórias visíveis e invisíveis, as que são contadas e as que ainda não são contadas, as que querem ser contadas e as que insistentemente são escondidas e podemos decidir como escrever esta História em devir e “pensar o mundo, imaginá-lo como um lugar de direitos humanos e de justiça pelo qual é preciso trabalhar e lutar, enquanto se (re)aprende, em conjunto, uma consciência de pertença a esse espaço comum chamado Humanidade”.6



Queremos nesta ligação MUSEU-ESCOLA-SOCIEDADE contribuir para uma aprendizagem que tem como referência os direitos humanos, que valoriza os valores da igualdade, da democracia e da justiça social7 que promove a escuta ativa, a empatia e o LUGAR do OUTRO numa ideia de múltiplas perspetivas e leituras “potenciando uma educação que envolve e produz agentes ativos”4 acreditando que o trabalho a partir da arte é um modo de moldar as nossas vidas, de “expandir a nossa consciência, de dar forma às nossas disposições e de satisfazer a nossa procura de significado, estabelecendo contato com outras pessoas e compartilhando cultura(s)”7.


A partir da arte e do fazer e pensar artísticos, num caminho de educação artística partilhada entre professores(as), alunos(as), mediadoras* e artista com uma atuação de constante cooperação e colaboração participativa e ativa trabalha-se sobre direitos humanos e cidadania, num currículo de justiça social e num formato de educação “que não separa a prática artística das restantes áreas, que a entende como um terreno sobre o qual se constrói tudo o resto, como uma área essencial do desenvolvimento humano e crescimento”8 e que por isso “mais capaz de formar mentes inquietas, mãos curiosas, corpos despertos, ouvidos disponíveis, juízos plurais e abrangentes. E com isso formar cidadãos completos, conscientes e múltiplos, mais capazes de entender e agir na diversidade e na mudança deste mundo em permanente transformação.” 8


Não há LUGAR(es) únicos ou História(s) únicas, há sim LUGAR(es) partilhados e História(s) partilhadas, vividas em muitos corpos e muitas vozes que deixam traços na paisagem que conseguimos ver quando voamos suficientemente longe unir quando suficientemente perto.


Porque juntos vivemos História, porque juntos construímos a História presente e futura.



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*Andreia Coutinho, Joana Simões Piedade, Mariana Faria


1 LUGAR : projeto da Fábrica de Projetos gulbenkian.pt/descobrir/geral/fabrica-de-projetos-2/ do serviço educativo do CAM é um projeto de educação e criação artística com as escolas centrado na ideia de Lugar enquanto espaço de construção de identidade, de relação, de memória e de narrativa, defendendo uma sociedade plural com múltiplas vozes e lugares de fala e o desenvolvimento de um pensamento crítico e criativo fomentador de debate, imaginação e criação (de futuros). Desenvolvido ao longo de todo um ano letivo com 4 escolas, 7 professoras, 4 mediadoras, 163 alunos (as) dos 3ºs e 4ºs anos e o artista Márcio Carvalho. Escolas EB1 Mestre Arnaldo Louro de Almeida - 2 turmas de 3ºano e 2 turmas de 4º ano; EB1 Mestre Querubim Lapa – 1 turma de 3º ano; EB1 S. Sebastião da Pedreira – 1 turma de 3ºano; EB 1 Castelo – 1 turma de 4º ano

2 https://oecdedutoday.com/portugal-inclusive-education/

3 Márcio Carvalho https://www.marcio-carvalho.com/

4 ACASO, M, & MEGÍAS, C. (2017).Art Thinking: como el arte puede transformar la education. Grupo Planeta

5 MODEST, W. (2018) Adeste+ European Conference. Perpetual Return or On Being Included: Again, and again and again… https://www.adesteplus.eu/?s=Wayne+modest

6 Joana Simões Piedade, mediadora do projeto LUGAR, in DIAS, A. (2021), Museu como Ágora, Convocarte, 13 Paideia

7 EISNER, E. (2002) The arts and the creation of mind. Yale University Press

8 SILVA, S. G. da (2019) Desarrumar as ideias-estimular o pensamento criativo! Fundação Manuel dos Santos https://www.ffms.pt/pt-pt/atualmentes/desarrumar-ideias-estimular-o-pensamento-criativo



A autora utiliza o novo acordo ortográfico.

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