Muito já se escreveu sobre o futuro feito à mão, ainda assim achei que esta seria a melhor forma de inaugurar esta rubrica que vos escrevo a convite da Património, o qual desde já agradeço.
Os prognósticos do início do séc. XX, que anunciavam a morte dos trabalhos manuais e da tradição artesã portuguesa, não só não se confirmam como, um século depois, observamos uma evolução do papel do artesanato na contemporaneidade, dando ao objecto uma dimensão que já não é só funcional mas que é também simbólica.
Contrariando os movimentos criados pelo fast fashion, há um nicho de consumidores que procura por produtos com alma. Questionando menos o preço e mais a história. Novas gerações de compradores, que nasceram numa era plenamente digital e que, por essa falta de identidade e sentimento de pertença, exigem produtos diferenciados e que tenham um sentido cultural acrescido.
Mas não é só em Portugal que se observa esta tendência. O movimento de valorização do “feito à mão” está a verificar-se por todo o mundo. Depois de algumas décadas a consumirmos produtos idênticos e impessoais, hoje em dia o consumidor procura produtos que o conectem com a sua individualidade e singularidade, que recuperam sentimentos de pertença que, num mundo altamente globalizado, acabou por se ir perdendo.
Um aspecto muito interessante neste renascimento do artesanal é como as técnicas e habilidades manuais podem juntar-se com a tecnologia digital na criação de novos produtos. A integração do design no artesanato é uma necessidade mas constitui também uma oportunidade – de potenciar o saber-fazer dos novos artesãos que incorporam matérias-primas locais e sustentáveis, numa combinação perfeita entre o tradicional e o contemporâneo.
Acredito que a procura de produtos feitos à mão, muito mais que uma tendência, é um estilo de vida!
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