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Fatimah Durkee (1980-2022)



Há dois anos que não escrevia para o Património. Não por falta de vontade mas, por vezes, o tempo falta-me e escorre-me pelo meio dos dedos.


Estes dois anos foram de crescimento, algumas derrotas mas, acima de tudo, muitas conquistas e aprendizagens. Ao pensar no tema que vos traria hoje, escrevi uma lista com várias opções;


- Bienal de Artes e Ofícios, a importância do encontro do tradicional com o contemporâneo;

- Natal - Vamos apoiar os micro empreendedores e os negócios locais;

- O luxo é feito à mão;

- Quais os desafios para o artesanato tradicional e de que forma o contemporâneo pode solucionar alguns deles;

- Turismo Criativo, uma forma de empoderamento das economias locais pelas mãos dos fazedores e agentes locais;


Mas ao olhar para esta lista durante algum tempo, percebi que nada podia ser escrito depois de termos perdido a Fátimah Durkee. Escrevo “termos perdido” porque todos perdemos. Não foi só a Passa ao Futuro a perder uma das suas fundadoras; não foi só a Astrid a perder a sua parceira e amor. Enquanto setor, enquanto país, todos perdemos.


Voltei a 2019, quando trocamos os primeiros e-mails: a forma generosa com que a Fátimah e a Astrid me acolheram e ao meu projeto, Portugal Manual, desde sempre, levou a que criássemos uma relação que ia além da missão que tínhamos em comum. Tudo o que sonhámos, todos os desafios que enfrentámos, todas as soluções que idealizámos e encontrámos, tudo e tudo e tudo…


Posso escrever várias linhas sobre a excelência de todo o trabalho produzido pela Passa ao Futuro e da importância para o panorama nacional das Artes e Ofícios. Todas as residências criativas, todos os programas de verão e aquele que, para mim, é o expoente máximo do resultado de anos de pesquisa e trabalho: a exposição “Um Cento de Cestos” que está patente no Museu de Arte Popular.


No final de 2021, reunimos um grupo de amigos e decidimos criar a Associação RODA - Rede de Ofícios, Design e Arte. Aqui deixo escrito que esta RODA nunca irá parar.


A convite da Spira, trabalhámos nos últimos meses, lado a lado, para fazer a 1ª Edição da Bienal de Artes, Ofícios e Novo Design. Algo que já tínhamos sonhado fazer em conjunto lá no início de tudo. A paixão que colocava no que se propunha fazer continuará a ser pura inspiração. Que privilégio que foi termos estado mais próximas nestes últimos tempos.


Para sempre ficará o pôr do sol, numa varanda em Loulé, uma garrafa de vinho, o sol a bater no dourado dos cabelos da Fátimah, a cumplicidade que tinha com a Astrid, o compromisso que tinha com o artesanato português. Uma sonhadora mas acima de tudo uma fazedora, uma impulsionadora, uma agregadora.


Todos te perdemos.


Mas não podemos negar tudo o que o país ganhou. Tudo o que artesanato ganhou. Tudo o que a cultura ganhou.


Na última despedida, tão especial como a própria Fátimah, entre abraços demorados, reiterámos os nossos votos e compromissos.


A missão da Passa ao Futuro continuará, pelas mãos da Astrid, sem dúvida, na certeza de que a rede de amigos e parceiros tudo farão para continuar na eterna busca das soluções que a Fátimah tanto procurava. Que todos tanto procuramos.


Até já Fátimah.

És luz!


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A autora utiliza o novo acordo ortográfico.


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