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Maria João Lança


Nome completo: Maria João Lança

Local e ano de nascimento: Lisboa, 1973 Formação académica: Mestrado em Museologia- Universidade de Évora;

Pós graduação em História Regional e Local- Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; Licenciatura em História- Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Cargo actual ou último cargo desempenhado: Diretora do Museu da Luz e do Parque de Natureza de Noudar

Como foi o seu percurso profissional? Por onde começou e por onde passou?

Depois de concluir a minha licenciatura fui viver para o Alentejo e comecei desde logo a trabalhar em pequenos lugares, primeiro em Portel e na Vidigueira e depois em Barrancos, na Câmara Municipal. Em 1999 concorri para uma vaga na EDIA, S.A. (Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva), como técnica superior no Gabinete de Património Cultural, onde permaneci cerca de 5 anos. Aí desenvolvemos um trabalho de levantamento patrimonial a um ritmo muito acelerado, - na sua fase final atingindo mesmo o carácter de emergência- , pois era nossa incumbência identificar, estudar e ‘salvaguardar’ o património cultural, nomeadamente arqueológico e rural, antes da submersão do vasto território de 250km2 pela barragem de Alqueva. No ano de 2005 fui convidada pela administração da EDIA para o então criado Museu da Luz (na nova aldeia da Luz), que dirigi durante 12 anos- foi a oportunidade para dar sentido a um museu num lugar sem história e sem raízes, nascido no quadro de um conturbado processo de mudança social. Procurei avidamente durante esse tempo encontrar caminhos diferenciadores e legitimadores deste museu. Por fim, e nos últimos 3 anos que permaneci na EDIA, tive a portunidade de dirigir o Parque de Natureza de Noudar (Herdade da Coitadinha, Barrancos), onde trabalhei diariamente com temas muito estimulantes, como a gestão ambiental, o ecoturismo, a agricultura, a gestão do património rural, etc. Aprendi muito sobre a Floresta que tem valor patrimonial inestimável.

Onde está hoje e o que faz?

Voltei a viver na minha cidade, Lisboa, e dedico-me atualmente a alguns projetos pessoais e profissionais (por conta própria), que incluem também a reabilitação patrimonial.

Até ao presente e do ponto de vista profissional, qual elegeria como o projecto mais relevante que levou a cabo, para o sector do património?

Por razões obvias o projeto mais relevante para mim foi toda a atividade desenvolvida no quadro da direção do Museu da Luz. Quando cheguei ao museu encontrei um edifício magnífico, salas de trabalho com prateleiras vazias, uma equipa mínima (de 2 vigilantes apenas), uma coleção de objetos com valor etnográfico (mas sobretudo com grande valor emocional porque a sua reunião decorria de um processo de recolha prévio à mudança da aldeia e foi constituída como testemunho de um lugar desaparecido). Mas, e sempre foi esse o meu entendimento, sobretudo havia uma história inédita para lá dos objetos, que importava valorizar. Para além de ser necessário dar corpo à ideia da função social do museu, porque desde a sua génese que o museu se definiu como a entidade, por excelência, para a reunificação da comunidade que vivia a natural ‘desorientação’ do processo da mudança de morada. Então era preciso construer o museu: criou-se uma equipa e desenvolvemos projetos de diversa natureza procurando dar resposta integral às funções museológicas consagradas na Lei-Quadro. Foram anos de persistência e criatividade, com muitas realizações em que o museu por fim cresceu e se afirmou.

E qual ‘aquele projecto’ que ficou por fazer ou completar?

Até ao momento sinto que fechei os ciclos iniciados, pelo menos em relação àquilo que eram os meus objetivos.

Qual a experiência humana que mais o marcou ao longo da sua vida profissional (colega, chefe, grupo de trabalho)?

Fui muito marcada pelo trabalho com as comunidades, porque desenvolvi sempre o meu trabalho ‘a partir de dentro’. O interior do nosso país de que hoje tanto se fala a propósito dos traumáticos incêndios e da seca e desertificação, é efetivamente complexo, mas sobretudo precisa é de pessoas a habitá-lo e a construí-lo. Não é fácil e há muitas tensões entre os diferentes interlocutores, mas para mim foi um privilégio imenso ter um trabalho muito direto com essas realidades locais.

Em retrospectiva, e numa escala de 0 a 10, como classificaria o seu percurso profissional?

Tenho difculdade em fazer avaliações quantitativas, pelo que me é difícil responder a esta questão.

Se voltasse atrás, fazia algo diferente?

Julgo que não, embora quando olhamos para o passado percebemos que podíamos ter explorado caminhos de outras formas, porque há sempre muitas opções possíveis para chegar a um fim. Ter dúvida é uma forma de estar essencial.

Que conselho daria a quem está hoje a iniciar a sua carreira profissional nesta área?

A determinação, a perserverança e a paixão são da maior importância. Ter um caminho próprio e adequado a cada realidade também me parece essencial, devemos a todo o custo evitar ’receitas’. Estabelecer objetivos sustentáveis, exequíveis e não utópicos ou de uma grandeza tal que nunca se concretizem.

O que deseja para o sector do património em Portugal, no presente e no futuro mais próximo?

Desejo que o património em Portugal se afirme e seja ainda mais reconhecido como valor maior e essencial ‘de’ e ‘para’ as pessoas. Que nesse processo de reconhecimento se tenha o maior cuidado em não desvirtuar o património. E aproveitar as oportunidades atuais da economia e da sociedade (e nomeadamente do turismo) como fator positivo.

As sugestões de Maria João Lança:

Citação: ‘Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara’ (José Saramago)

Livro: Coletânea Michel Giacometti- Filmografia Completa (RTP Edições)

Música: ‘Kind of Blue’, Miles Davis

Projecto: A elevação do Cante Alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade

*Esta entrevista foi escrita de acordo com o Novo Acordo Ortográfico.


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