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Em Setembro, romemos a Elvas


A Procissão dos Pendões marca o arranque oficial das Festas em Honra do Senhor Jesus da Piedade em Elvas. A romaria estende-se por cerca de 4 quilómetros e atrai gentes dos lados de cá e de lá da fronteira, afirmando-se como a maior feira a sul do Tejo. Até dia 25 de Setembro, tradições religiosas seculares e a animação da Feira de São Mateus são o mote para conhecer esta cidade classificada como Património Mundial da UNESCO, em tempos apelidada de “Chave do Reino”.

Por esta altura, o alojamento na cidade já se encontra esgotado, afirma o Presidente da Câmara Municipal de Elvas, Nuno Mocinha, acrescentando que, em dia de Procissão dos Pendões, a 20 de Setembro, são esperados cerca de 40 mil visitantes em Elvas. Este número deve-se, em parte, à forte participação da população de Badajoz nas festividades, fruto da estreita relação entre as cidades fronteiriças, consolidada desde 2013 com a criação do projecto de EuroCidade Elvas-Badajoz. O Presidente realça ainda que, nessa relação, “Elvas oferece a classificação e Badajoz oferece a dimensão”.

Nuno Mocinha, Presidente da Câmara Municipal de Elvas

Sabe-se que esta romaria remonta a 1737, um ano após um episódio protagonizado pelo padre Manuel Antunes no local onde hoje se encontra o Santuário do Senhor Jesus da Piedade, no qual termina o percurso da Procissão dos Pendões. Os crentes começaram a acorrer a este local por ter sido ali que, combalido, o padre terá rezado após cair pela terceira vez da sua mula quando se deslocava para a Horta dos Passarinhos. Conta-se que a oração, não só lhe permitiu seguir caminho, como também o preveniu de quaisquer danos físicos das quedas anteriores.

A Procissão parte da antiga Sé de Elvas, a Igreja da Nossa Senhora das Dores, na qual se destacam elementos arquitectónicos do manuelino e do barroco, a azulejaria do seu interior e as pinturas de Luis de Morales. O património religioso da cidade é rico e diversificado, sendo algumas das suas referências a Igreja das Dominicas em formato octogonal, a Sinagoga (que abre as portas ao público em Abril de 2017) e ainda as Judiarias.

Igreja da Nossa Senhora das Dores

Mas a função do território elvense como suporte defensivo militar perde-se no tempo e na história: os primeiros registos datam da Idade do Ferro, altura em que se implementaram os primeiros povoados fortificados. Ao longo dos séculos, passou pelo domínio do Romanos, esteve sob a alçada dos visigóticos e em 714 foi tomada pelos muçulmanos, cunhando o nome Yalbash, antes de ser conquistada por D. Sancho II, em 1230.

Estas movimentações político-militares sempre foram acompanhadas pela construção e adaptação de cercas e fortificações, mas é no século XVIII que Elvas se vem a tornar na maior fortificação abaluartada terrestre do mundo, com a edificação do Forte da Graça. Contudo, já desde a Restauração que Elvas formava uma autêntica cidade-quartel. A quantidade de tropas ali estabelecidas levou até à criação da lei do aboletamento, em que cada família elvense era obrigada a albergar em sua casa dois soldados e um animal.

Fortificações abaluartadas do Forte da Graça

No dias de hoje, é habitual ouvir-se que “de Elvas a Lisboa, é uma auto-estrada”, fazendo-se referência à facilidade com que tropas inimigas outrora poderiam chegar a Lisboa caso conseguissem transpor Elvas, dada a inexistência de qualquer rio ou montanha entre as duas cidades capaz de evitar o avanço das tropas. Elvas destaca-se assim como imprescindível à defesa do reino português - a “Chave do Reino” -, sobretudo durante a Guerra Peninsular e a Guerra Civil.

O Forte da Graça é, de facto, o expoente máximo desta expressão e percebemo-lo assim que nos aproximamos da fortificação. Localizado num local estratégico com visão periférica sobre o território, esta imponente obra-prima da arquitectura militar foi edificada com a força de 6000 homens e 4000 animais. O Conde de Lippe, chamado por D. José I para reformular o exército português, comandou este processo e tudo foi arquitectado ao pormenor. Margarida Ribeiro, a guia que nos acompanha, acrescenta que “tudo é simétrico no Forte da Graça” e que tudo foi pensado “de modo a proporcionar a melhor defesa e o melhor ataque”, ou não tivesse sido aquele local ocupado por espanhóis durante o cerco à cidade de Elvas em plena Guerra da Restauração.

Forte da Graça

Uma visita ao Forte da Graça é como percorrer, ao vivo, a enciclopédia das mais variadas técnicas belicistas: desde orifícios destinados a atirar azeite a ferver sobre o inimigo, a ombreira de portas prontas a lançar sobre quem as atravessasse, complexas linhas de defesa, contra-minas… Felizmente, a sua colocação em prática nunca foi necessária.

Funcionou depois como presídio durante o Estado Novo e ficou a ser conhecido como “o fim da linha”, dadas as duras condições em que eram mantidos os prisioneiros. Um dos trabalhos que lhes competia – “a barrilada” -, consistia em carregar a própria água que bebiam: desciam a encosta do forte com barris, que depois traziam cheios de água para depositar na cisterna.

Foi aberto ao público há cerca de um ano e tem-se revelado um dos grandes atractivos culturais da região. Hoje mesmo, foi possível fazer uma visita especial que dá acesso a zonas que normalmente se encontram vedadas.

Por estes dias, torna-se evidente a agitação na cidade de Elvas, que tem visto o seu desenvolvimento consolidar-se desde a classificação atribuída pela UNESCO, há quatro anos: hoje, é um epicentro ibérico no âmbito do património militar e religioso.

Reduto central do Forte da Graça

Forte da Graça (área adaptada à função de presídio)

Vista sobre Elvas

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