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Qual é o monumento mais visitado do País?


Esta é uma pergunta que suscita sempre o imediato interesse de quem nos ouve. A desinformação tem sido muita e criaram-se vários mitos, o Museu dos Coches é um deles. Muitos acreditam ser o museu mais visitado do País, por exemplo. Não é verdade, o (actual) Museu dos Coches teve em 2011 um total de 191.021 visitantes. É muito? Não, é até bastante pouco, face a outros exemplos, mas a verdade é que o campo das estatísticas de visitantes (em rigor, de visitas) é uma área complexa com muitas variáveis e, dito de modo coloquial, não se pode comparar ‘alhos com bugalhos’. Vejamos. Quando nos referimos ao número de visitas de uma atracção cultural (um museu, um monumento ou um jardim histórico), falamos de visitas pagas.

Ora, muitas atracções têm visitas gratuitas ou parcialmente gratuitas (por exemplo, em 2011, 77% dos bilhetes de Serralves e 10% dos do Castelo de São Jorge foram gratuitos), o que implica maior rigor nas comparações. Por outro lado, algumas encerram um dia por semana, enquanto outras estão sempre abertas e, também aqui, a comparação imediata merece algum cuidado. Salvaguardando estas diferenças, os números são o que são e a sua comparação permite-nos um juízo crítico sobre a forma como determinado activo cultural é ou não valorizado pela sociedade. Segundo as estatísticas referentes a 2011 (1), as atracções culturais mais visitadas são, por ordem decrescente, o Castelo de São Jorge (1.006.012 visitas), o Mosteiro dos Jerónimos (712.718), o Palácio da Pena (668.785), o Museu Berardo (652.447), o Museu de Serralves (473.903), a Torre de Belém (409.808), o Palácio da Vila de Sintra (373.801), o Paço dos Duques em Guimarães (344.999), o Mosteiro da Batalha (274.814), o Palácio de Mafra (261.068) e o Museu Gulbenkian (238.133). Todas as restantes atracções estão abaixo da fasquia dos 200.000, incluindo o Museu dos Coches. Satisfeita a curiosidade inicial, fica a questão: afinal para que servem estas comparações? Na verdade, o número de visitas de uma atracção cultural constitui o primeiro indicador sobre o seu desempenho cultural e social, revelando-nos o grau de exposição e aceitação pública. Acresce que, em teoria, quanto maior o número de visitantes, maior será também a receita obtida, o que se reveste da maior importância para o seu normal funcionamento (custos com pessoal, consumos, manutenção, promoção, valorização, etc.). Percebe-se assim que este indicador é um importante instrumento de gestão, que permite aferir a validade das opções estratégicas seguidas e melhorar as condições de financiamento próprio das instituições. Mais receitas permitem mais serviços e melhor conservação dos edifícios e colecções. No entanto, verifica-se que a capacidade de captação de receitas por parte de uma atracção cultural, não se limita apenas ao aumento do número de visitas, mas também a estratégias eficientes na comercialização dos serviços associados: bilheteira, loja, cafetaria, aluguer de espaços ou direitos de imagem. Em alguns casos, verifica-se mesmo que atracções com mais visitas têm menor receita do que outras, em virtude do seu menor rácio visitante/receita. Por vezes, esta questão é crítica para o normal funcionamento (sobrevivência) da instituição, pois os custos fixos têm que ser cobertos pelas receitas e a esta compensação deve ser assegurada. Noutros casos, a localização periférica ou a natureza específica da colecção podem ser um factor determinante no financiamento directo por parte do Estado ou entidade proprietária, compensando a chamada ‘falha do mercado’. No caso de novas atracções, um correcto planeamento estratégico prévio deverá assegurar que existem condições para garantir a sua sustentabilidade financeira, nomeadamente através de uma boa análise do mercado e da definição de cenários realistas. A este propósito, o caso do (novo) Museu dos Coches é muito interessante, uma vez que se diz precisar de um milhão de visitas anuais para cobrir os custos previstos e funcionar em boas condições. Ora, o Mosteiro dos Jerónimos ali tão próximo é a segunda atracção cultural mais visitada do País e não chega lá perto…será legítimo pensar que o novo museu o conseguirá? Não é impossível, mas é certamente arriscado e difícil na actual conjuntura económica internacional. Agora que se esclareceu qual a atracção cultural mais visitada…será mesmo assim? E qual será aquela com mais receitas? São temas para um próximo editorial.

Novo Museu dos Coches

Visitantes

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Serviços - Loja

1 Excluem-se aqui as estatísticas de visitas escolares ou eventos paralelos e outras atracções culturais como o Jardim Zoológico ou o Oceanário de Lisboa, para manter esta análise no âmbito do património cultural.

Os Editores

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