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Graça Horta


Nome completo: Graça Maria de Castro Horta Santos

Local e ano de nascimento: Lisboa, 1948 Formação académica: Variada. Comecei pelo Curso de Filologia Românica na FLUL.A Revolução de 25 de Abril chegou e ganhou força sobre qualquer formação universitária; quando regressei à faculdade, o curso estava diferente e desinteressei-me.Foi num estado de espírito de um certo vazio, que um aviso publicado num jornal me veio “traçar o destino”; da autoria do Instituto Português do Património Cultural, publicitava a abertura de “inscrições para o exame de admissão aos cursos de conservação e restauro criados ao abrigo do D.L. 245/80 de 29 de Julho”. Era um desafio aliciante, para quem, entre muitas outras coisas gostava de “manualidades”.Realizados os testes exigidos, entre psicotécnicos e de aptidão teórica e técnica, foram apurados os 35 candidatos pretendidos e iniciou-se, em 1981, o primeiro curso de conservação e restauro em Portugal, leccionado no Instituto José de Figueiredo por um grupo de profissionais que reunia docentes universitários, profissionais liberais e os técnicos do próprio Instituto formados no trabalho e na experiência de muitos anos; tinha a duração de 3 anos teórico-práticos, seguido de estágio de dois anos na área escolhida. Faltava-me ainda cumprir um desejo adolescente: o curso de Geografia. Foi feito na FLUL, terminado em 1997 e, com surpresa, encontrei nele muitos elementos que estabelecem pontes com a área do Património.

Cargo actual ou último cargo desempenhado: Consultora na empresa “Parques de Sintra - Monte da Lua”.

Como foi o seu percurso profissional? Por onde começou e por onde passou?

Comecei a trabalhar aos 20 anos, no Instituto Nacional de Estatística onde estive cerca de 2 anos. Mudei para a biblioteca do IPO e pouco depois para a do Centro de Estudos Filológicos. Andava ainda à procura de uma área de eleição, quer na formação, quer na actividade profissional. Em 1989 iniciei a carreira de técnica de conservação e restauro no então IJF.

Onde está hoje e o que faz?

Estou a acompanhar, como consultora, a recuperação do Chalet da Condessa d’Edla no Parque da Pena em Sintra e a colaborar no trabalho de carregamento das bases de dados do actual Laboratório José de Figueiredo, ex IJF/IPCR.

Até ao presente e do ponto de vista profissional, qual elegeria como o projecto mais relevante que levou a cabo, para o sector do património?

Destaco dois: — a colaboração no projecto de elaboração de bases de dados, quer de imagens, quer de textos, dos processos de trabalho do IJF/IPCR. — a colaboração na recuperação do Chalet da Condessa d’Edla: desde o levantamento e selecção dos destroços do fogo, à ajuda na elaboração dos cadernos de encargos e ao acompanhamento da obra.

O projecto escolhido é também aquele que lhe deu mais gozo executar? Posso dizer que sim, pela abrangência dos projectos e pela possibilidade de acompanhamento desde o início.

E qual ‘aquele projecto’ que ficou por fazer ou completar?

Não houve um projecto específico; de um modo geral nunca gostei de interrupções em trabalhos iniciados, provocadas por orientações erráticas das várias instituições ligadas ao património edificado.

Qual a experiência humana que mais o marcou ao longo da sua vida profissional (colega, chefe, grupo de trabalho)?

Não houve uma experiência, mas um percurso. Nos últimos anos tenho tido um maior contacto com actores da área do património muito mais novos do que eu, quer conservadores-restauradores, historiadores, engenheiros, arquitectos, quer técnico-profissionais (de pintura decorativa, de estuques), para só nomear alguns; a atitude empenhada e exigente destes profissionais tranquiliza-me e confesso que muitas vezes me comove, por serem capazes de persistir com brio, em situações adversas, precárias. Os bons profissionais existem, valeu a pena “a minha geração” fazer um percurso de muitos anos, exigindo qualidade e denunciando facilitismos.

Em retrospectiva, e numa escala de 0 a 10, como classificaria o seu percurso profissional?

Fico-me pelo 8.

Se voltasse atrás, fazia algo diferente?

Pergunta sacramental… Sim; com toda a experiência técnica e de vida que incorporei, tentaria, pelo menos, agir de modo diferente nalgumas situações.

Que conselho daria a quem está hoje a iniciar a sua carreira profissional nesta área?

É a prática que nos ensina e nenhum trabalho é igual ao anterior. É preciso humildade para estar continuamente à procura de respostas e nunca dar por suficiente o conhecimento que temos. É também da prática que se deve partir para a investigação laboratorial e respectiva interpretação.

O que deseja para o sector do património em Portugal, no presente e no futuro mais próximo?

Que o Estado português não nos apague a memória, (parafraseando o nome de uma organização de cidadãos que luta exactamente neste sentido). Os responsáveis pelo sector do património têm que organizar os serviços para intervirem a tempo e com os profissionais devidamente credenciados.

As sugestões de Graça Horta:

Citação: “Camiñante no hay camiño; se hace el camiño al andar”

Livro: Mora, Paolo et Laura, e Philippot, Paul – “Conservation of wall paintings”. Boston: Butterworths, 1984. Um clássico, que ninguém da área pode deixar de ler, reler e aplicar na prática. Há uma 1.ª edição francesa, cerca de vinte anos antes e uma edição italiana, mais recente.

Música: Os blues do deserto… Tinariwen, “The Radio Tisdas Sessions”, Janeiro de 2000.

Projecto: “Iber Concepts” . Um projecto sobre a “História dos Conceitos” na perspectiva do mundo ibérico. O projecto da “História dos Conceitos”, abrangendo várias culturas, tem uma página no Facebook.

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