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A Conservação e Salvaguarda na Rota do Românico


O gérmen da Rota do Românico começa a assumir os primeiros contornos em 1998 quando a VALSOUSA – Associação de Municípios do Vale do Sousa, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, a antiga Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e o antigo Instituto Português do Património Arquitetónico, deram início a um processo de colaboração que, de forma a criar um envolvimento das entidades locais, regionais e nacionais, públicas e privadas, viria a culminar na criação da então Rota do Românico do Vale do Sousa, atualmente designada de Rota do Românico.

O projeto começa a ganhar contornos mais definidos com a seleção de 21 monumentos dos seis municípios que compõem a VALSOUSA (Castelo de Paiva, Felgueiras, Lousada, Paços de Ferreira, Paredes e Penafiel) e, em 2003 deu-se início ao desenvolvimento concreto deste projeto através das ações de reabilitação, conservação e valorização dos monumentos previamente selecionados. Entre 2005 e 2007 procedeu-se à elaboração de estudos, nos quais se efetuou o diagnóstico e se definiram propostas de atuação para os conjuntos arquitetónicos e paisagens envolventes aos 21 monumentos.

Em março de 2010 os restantes seis municípios da NUT III – Tâmega (Amarante, Baião, Celorico de Basto, Cinfães, Marco de Canaveses e Resende) firmaram um protocolo de adesão à Rota do Românico. O processo de seleção do património de origem românica desses municípios culminou na integração de 34 elementos patrimoniais, localizados no Baixo Tâmega/Douro Sul, e de mais três, no Vale do Sousa, sendo a Rota do Românico atualmente composta por 58 monumentos. Como consequência do diagnóstico prévio elaborado para os 21 monumentos iniciais e, posteriormente, para os restantes 37, definiu-se como princípio metodológico que a intervenção incidisse prioritariamente na conservação do património edificado e no património móvel como parte integrante do conjunto.

Assim, os projetos dariam prioridade à salubridade dos edifícios, à sua estabilidade estrutural, bem como à conservação de coberturas, de madeiramentos, das alvenarias autoportantes e dos bens móveis que integram o edificado, tais como a pintura mural, as madeiras policromadas, a azulejaria, entre outras.

Como exceção a um grande conjunto de monumentos em que a conservação é dominante, verificaram-se e verificam-se situações em que os bens patrimoniais acusavam um profundo estado de ruína. Nestes casos, procedemos à avaliação do significado do bem patrimonial nas suas relações afetivas e do imaginário das populações próximas, optando por integrar esses afetos na reabilitação desses bens, em detrimento da manutenção e conservação da ruína. Estas intervenções têm assumido por normativa no desenvolvimento do projeto o recurso, sempre que possível, a materiais e técnicas tradicionais, não recusando a linguagem contemporânea do desenho arquitetónico.

Para a avaliação dos resultados atingidos, embora com as restrições financeiras inerentes ao projeto, há que ter em conta as relações afetivas e emocionais das populações locais perante o objeto patrimonial. Nesse sentido, o comportamento emocional destas foi e é francamente positivo, tendo contribuído para a sua autoestima e assumindo-se elas próprias como responsáveis pela sua manutenção e guarda.

Concretiza-se, assim, o princípio nuclear da salvaguarda dos bens patrimoniais como sendo os elementos constitutivos de identidade que dão sentido à vida, quer seja no plano local, regional ou nacional. Ora, conjugando esta mais-valia do envolvimento das populações locais, o objetivo estratégico é que este património seja vivido pelas comunidades como sendo parte integrante das suas vivências e práticas quotidianas, fator fundamental para a sua manutenção. Só atingiremos os nossos objetivos caso o envolvimento da população se mantenha vivo, permanente e seja partilhado pelas gerações atuais e vindouras.

Acresce a este parâmetro o contributo para a qualificação do território quando se atua salvaguardando os bens patrimoniais e a sua paisagem envolvente. A conjugação destes dois aspetos - o envolvimento da população e a qualificação do território - já tem impacto na tomada de decisão dos poderes públicos que gerem o território, bem como na interiorização de modelos de referências pelas populações locais.

A avaliação do valor da Rota do Românico nas políticas e práticas para a salvaguarda do património deve ser sustentada no entendimento que este não é um objeto isolado para contemplação, mas sim um conjunto de bens patrimoniais associados e intrinsecamente interligados no território e às populações que o vivem.

Acresce a isto o facto de a salvaguarda dos bens dever entender-se enquanto cruzamento do físico, o construído, com o significado que lhe está associado pelas gentes, o intangível. Foi este princípio que balizou e baliza as intervenções levadas a cabo no património românico do Tâmega e Sousa, que obviamente tiveram sempre presente as recomendações espelhadas nas Cartas e Convenções internacionais.

Esta prática é já um caso de estudo no território português, não como modelo a reproduzir, mas como prática de reflexão sobre a mais-valia do património enquanto objeto de salvaguarda e fator de identidade, coesão social e desenvolvimento económico.

Mais ainda, o norte das intervenções foi a conservação. Independentemente das limitações financeiras, a intervenção primeira foi objetivamente conservar o bem para que ele possa ser legado às gerações futuras. Este legado deve ser entendido não só pelo bem patrimonial em si, mas também pela informação que transporta para que o conhecimento possa vir a ser aprofundado, desenvolvido e estudado ao longo dos tempos.

Igreja de São Mamede de Vila Verde, Felgueiras, antes da intervenção.

Torre do Castelo de Aguiar de Sousa, Paredes, antes da intervenção.

Torre do Castelo de Aguiar de Sousa, Paredes, depois da intervenção.

Igreja do Salvador de Unhão, Felgueiras, durante a intervenção.

Igreja do Salvador de Aveleda, Lousada, durante a intervenção.

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