Isabel Vaz Freitas*
A História, o património e a cultura são fundamentais para a compreensão dos lugares, para a construção de identidades, para a vinculação das comunidades aos sítios onde habitam e para a emotividade de quem visita. De forma digital ou presencial, as visitas constituem experiências únicas, significantes e diversificadas, nas quais cada momento é uma nova descoberta, uma nova emoção, um novo saber.
A História e o Património têm essa interessante particularidade de nos motivar, apaixonar, abrir a curiosidade e querer saber mais. O que aconteceu, como aconteceu, como reagiram as comunidades e as sociedades no seu tempo, como viviam, como contemplavam o Mundo, as suas emoções, as suas vivências… A nossa curiosidade sobre o passado abre-se, também, pela grandiosidade dos momentos, pelo espírito empreendedor e de resiliência que tanto nos fascina, ou pelas simples histórias que dão asas à nossa imaginação. Histórias e estórias que caracterizam o imaginário de uma época e que nos garantem o prazer de as ouvir, hoje. Pelo seu fascínio e enigmas, forçam-nos a ler mais para entender significados ocultados pelo tempo.
Nestes domínios dos saberes, das experiências e das emoções, o Património militar ou a História militar, constituem-se como recursos significantes e emergentes dos territórios, ativos estratégicos que podem promover o desenvolvimento de áreas de interior. Saliente-se que Portugal é rico em património que testemunhou grandes conflitos na sua História, e, em particular, as áreas de fronteiras são motes interessantes para criar conteúdos e comunicar elementos culturais e patrimoniais resilientes à passagem do tempo. Castelos, torres, sítios arqueológicos com vestígios de conflitos armados, lugares de escaramuças fronteiriças, entre outros, são testemunhos importante da História e das estórias dos lugares. Todos estes elementos plenos de História, histórias e estórias enriquecem o nosso património cultural, quer material quer imaterial.
Por serem elementos de relevo que contam narrativas, acontecimentos reais, verdadeiros ou líricos, devem ser preservados e conservados, mas devem também ser comunicados com valor e com acessibilidade, alcançando cada vez mais pessoas num mundo cada vez mais global, onde as culturas tangíveis e intangíveis abrem os lugares ao Mundo.
Por outro lado, o conhecimento dos lugares permite aos planeadores e à economia dos territórios encontrar alguma inovação nos novos e nos velhos produtos e destinos. O património militar é uma dessas temáticas capazes de trazer mais desenvolvimento e mais inovação aos territórios.
Desde a sua origem, a Universidade Portucalense, universidade onde trabalho desde 1990, tem-se pautado pelo desenvolvimento de trabalhos e de projetos de investigação que promovem a conservação dos lugares, a sua monitorização e a sua acessibilidade de forma a promover Portugal e os lugares mais esquecidos a esta internacionalização que agora vivemos. Vamos continuar a percorrer estes caminhos abrindo portas às novas tecnologias de forma a promover fortemente a digitalização do Património, da História e da Cultura.
Como medievalista, não poderia deixar de reforçar que o património militar tem sido algo esquecido e os seus conteúdos pouco revelados e pouco visitados. Insisto nos castelos de fronteira, lugares que sempre me fascinaram em todo o meu percurso pessoal e académico. Castelos que se mantêm altaneiros e dominadores de terras, mas muitos deles sem qualquer atenção, sem qualquer plano de salvaguarda, de visita ou de monitorização. Alguns, esquecidos, resistem isolados ao tempo. Outros já com um despertar de atenções das autoridades locais, a quem felicito pelo querer manter viva a História e a memória dos seus lugares.
No nosso trabalho, os castelos de fronteira, a sua monitorização e salvaguarda serão uma prioridade. A apresentação de propostas imediatas de conservação e salvaguarda irão surgir para quem nos quiser ouvir e conhecer as metodologias inovadoras de trabalho que usam com o auxílio de parceiros de excelência nos domínios das novas tecnologias.
Como base deste enquadramento, o projeto gerido pela Universidade de Huelva dedicado aos castelos do sudoeste peninsular irá permitir um conhecimento e um maior reconhecimento peninsular integrado destes castelos que na Idade Média viviam entre a guerra e a paz. De realçar que estes castelos viveram um dia-a-dia de fronteira onde eram fortes as vivências locais de uma população raiana que no seu quotidiano fazia oscilar as relações entre a amizade e a família, o acordo e o desacordo, a conformidade e a discórdia. Vivências que se projetam até hoje e que só podem ser entendidas no acumular de sentidos.
A Associação de Turismo Militar tem aqui um trabalho fundamental, o de ficar próximo deste património e de juntar esforços no sentido de irmos mais longe na valorização, na conservação e na salvaguarda destes lugares únicos, irreplicáveis e insubstituíveis. Da nossa parte iremos continuar a pensar, a refletir e a testar novas metodologias que nos permitam ir mais longe e que possam juntar esforços para manter a sua História e a sua memória para as gerações futuras como testemunhos da passagem da humanidade no planeta Terra.
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