Comodoro José António Croca Favinha* Director do Museu de Marinha
Fundado em 22 de julho de 1863 por D. Luís I, o Museu de Marinha é um dos mais antigos museus nacionais, possuindo um espólio riquíssimo e único que testemunha e dá corpo ao relacionamento da comunidade portuguesa com o mar, contribuindo, assim, para sedimentar a história e a cultura marítima de Portugal.
Sendo um órgão de natureza cultural da Marinha, não se limita a ser o “museu da marinha militar”, afirma-se, igualmente, como o museu das marinhas mercante, de recreio e de pesca, contribuindo dessa forma para preservar e desenvolver a forte relação do país com o mar e para a divulgar junto dos muitos turistas que nos visitam.
Durante a sua já longa história, o Museu de Marinha conheceu diversas localizações. Inicialmente, foi instalado na Sala do Risco da Escola Naval, no antigo Arsenal de Marinha. A doação da extraordinária coleção de Henrique Maufroy de Seixas à Marinha, em 1948, constituída por mais de trezentas peças, entre as quais várias tipologias de modelos de navios, a que se juntaram vários milhares de fotografias que tinham por tema o mar, a Marinha e, de uma maneira geral, a cultura marítima portuguesa, deu um impulso significativo às coleções deste museu marítimo. Em 15 de agosto de 1962, o Museu de Marinha é transferido para o Mosteiro dos Jerónimos, após a construção, de raiz, do Pavilhão das Galeotas – primeira instalação do género em Portugal para albergar as galeotas reais – e das alas sul e poente do complexo, segundo um projeto do arquiteto Frederico George.
Contando com mais de 25.000 peças, o acervo do Museu de Marinha é constituído por coleções de carácter diversificado, que incluem peças das armadas de Vasco da Gama, o hidroavião em que Gago Coutinho e Sacadura Cabral completaram a primeira travessia área do Atlântico sul, as Galeotas reais, a referida coleção de astrolábios náuticos, a maior do Mundo em permanência, constituída por nove peças, e outros instrumentos de navegação, espécimes e réplicas rigorosas da cartografia da época dos Descobrimentos, modelos de navios de guerra, navios mercantes, embarcações de pesca e quadros de pintores famosos como João Vaz, Roger Chapelet ou de aguarelistas como o Comandante Pinto Basto. Dispõe ainda o Museu de Marinha de 140.000 espécies fotográficas e 1500 desenhos e planos de navios e embarcações.
Em 2019 atingiu-se o número de 175.000 visitantes, valor que coloca o Museu de Marinha como um dos museus mais visitados do país. Contando com quase 10000 m2 de área expositiva, este Museu tem em curso um programa para requalificar e renovar a sua exposição permanente, nomeadamente através da implementação de uma comunicação de conteúdos de acordo com os novos padrões da museologia e com recurso a novas tecnologias. De acordo com o estabelecido, concluiu-se a renovação toda a ala poente do Museu, com a finalização, no último ano, dos trabalhos na Sala dos Grandes Veleiros. Durante o corrente ano tenciona-se iniciar a produção que materializará a renovação da Sala da Marinha de Guerra dos Séculos XIX à atualidade, por forma a concluir esse programa de renovação em 2023, por ocasião da comemoração dos 160 anos da criação do Museu de Marinha.
A divulgação cultural inclui um programa dinâmico de exposições temáticas temporárias, que evocam figuras ou factos de interesse histórico, associados às atividades do mar ao mesmo tempo que possibilita uma porta aberta a iniciativas da sociedade portuguesa. Durante o último ano estiveram patentes ao público as exposições temporárias “Fuzileiros. 400 Anos”; “Projetar a Marinha no Papel. Contra-almirante Rogério d’Oliveira (1921-2021); “Arte e Mar”; “A Sala Mágica da DR.ª”. O contacto do público e dos investigadores com
as coleções e peças do museu não se limita hoje às visitas presenciais. É possível efetuar a consulta dos registos do museu através da aplicação InWeb na página de internet do Museu de Marinha, no chamado “Museu Digital”. O acesso pode, ainda, ter lugar através do Portal das Instituições de Memória da Defesa Nacional.
O programa educativo e de medição cultural, do Museu de Marinha, encontra-se focado nas escolas e nos grupos organizados, realizando-se visitas guiadas temáticas ou de carácter geral e ainda visitas teatralizadas realizadas com o recurso a parceiros do Museu.
A pandemia COVID-19 teve um impacto significativo na programação das exposições temporárias. No entanto, enquanto decorre a renovação do Museu de Marinha, em 2022 terão lugar a exposição comemorativa itinerante do Centenário da Travessia Aérea do Atlântico Sul e a do Centenário da morte do Príncipe Alberto I do Mónaco.
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*O autor utiliza o novo acordo ortográfico. Artigo retirado do 3º número da revista Viagem na História – Turismo Militar, no âmbito da parceria com a Associação de Turismo Militar Português.
Consulte a nova edição da Viagem na História – Turismo Militar em https://www.turismomilitar.pt/index.php?lang=pt&s=news&id=281&title=3%C2%BA_Numero_da_Viagem_na_Historia_%E2%80%93_Turismo_Militar_ja_disponivel
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