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It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine)


Digo-vos que mais valia não o sabermos. Não sabermos do mergulho damasiano entre Descartes e Espinoza, da travessia neural de Eduardo Punset, à tona e de bruços, entre uma emoção racionalizada feita sentimento e memória. Que ontológico alívio, nada conhecer. Nada.

E notem que não estou a nadar numa logomaquia de arranque de silly season mas a apontar a mirada ao prometeico pecado original; transversal a todas as cosmogonias entre Finisterra e o Estreito de Ormuz: saber é roubar o fogo aos deuses. E quem aos deuses ofende de tão aviltante feição sofre para a eternidade o castigo do caminho sinuoso da cosmologia. Resta escolher o que queremos que esteja no primeiro degrau da sabedoria: uma visione del mondo ou a senda de o desenhar. Pode bem haver quem se lance a unir os pontos de um desenho já feito. Nunca saberemos se a Cosmologia resulta da Cosmogonia ou se o seu inverso. E sabê-lo irmanar-nos-ia de Prometeu. Mas já sabemos: há mapas que são desenhados para que nos percamos. Um salto a pique na prosaica rebentação da espuma dos (nossos) dias. Mas – à laia da blague operacional do Foreign Office - não se pedem desculpas nem se agradece ao serviço de Sua Majestade (ou da coisa pública). A turba vem aí, como em Goscinny e Uderzo. Vêm aí os Normandos? Sim: a Transferência das Competências do Estado Para as Autarquias Locais (Proposta de Lei n.º 62/XIII - PL 11/2017) e o Projecto Lei para a Integração de Serviços e Competências do Estado nas CCDR – a primeira iminente o segundo felizmente atrasado – prometem desarrumar uma casa com cuja organização ainda nos estamos a debater em todas as frentes: política, espólios e recursos humanos. Pior (para a democracia): a regionalização, travada por sufrágio directo universal em referendo, chega de assalto pela porta da secretaria. Talvez seja a prosaica espuma dos dias, mas de uma ressaca que pode bem atentar contra a Memória, a Ciência e a Cultura como já só o recordamos de tempos de má memória. Mais valia não sabermos? Claro que não: depois como e a quem iríamos agradecer e pedir desculpa?


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