A Educação, enquanto fenómeno de massas legado dos últimos tentames de igualdade social desde a Revolução Francesa, devia ser banida das prioridades da res publica. Embora, numa perspectiva tocquevilleana do mundo, a Democracia não traga felicidade aos povos, é apenas num enquadramento democrático que todas as intenções de perpetuação das relações de poder de ancien regime são exequíveis. Na lição de Bourdieu já tínhamos aprendido que a Escola garante a desigualdade e a manutenção das minoritárias elites e sua equivalente dinâmica de sujeição, opressão e domínio do outro. Porque as lições são ministradas num código que só é decifrado pelos que o trazem de casa, mantendo os demais apartados do seu manual de cifras. Perpetuando, pois, as relações de poder de ancien regime e libertando-nos da angústia democrática da consciência de um passado que já não existe e de um futuro que ainda também não. Já quase ninguém no Ocidente – entre governantes e governados – se atreve a propor ou aceitar Regimes declaradamente avessos ao sufrágio directo universal nem a Estados que se aproximem de retóricas, estéticas e práticas declaradamente autoritárias. Quase. A Democracia e os seus mecanismos burocráticos, jurídicos e administrativos redescobriu-se assim como enquadramento ideal e propiciatório de todas as maquilhadas autoritárias práticas. Porque é Democracia: impoluta, desejável e global. A Democracia das Relações Internacionais - e seus mecanismos de autorregulação - que por ser juridicamente enquadrada, humanista e proba permite todas as violações do Direito Internacional, especialmente se o mote for a guerra e os alvos as populações, a educação e a cultura. Em paz, segurança e num enganador estado de serenidade, a República Portuguesa vai pugnando pela educativa aplicação de Directivas Europeias, Convenções Internacionais e decorrente enquadramento jurídico interno para garantir a salvaguarda do Património Nacional. Os Promotores de empreendimentos públicos e privados, probos e cumpridores, pagam a conta do poluidor pagador. Quando os resultados das pesquisas históricas, estudos patrimoniais e intervenções arqueológicas pedem um desenvolvimento tendente ao espectáculo da divulgação pública alargada e da educação, os pagadores saem de cena mesmo que a sua participação reverta a seu favor em dignidade institucional e conversão de um custo em investimento – salvo excepções honrosas. Valham-nos, porém, os poderes democráticos e seus mecanismos próprios da Tutela Pública. Valha-nos a sua iniciativa consagrada na Lei Geral e de desenvolvimento, na Educação, no Ambiente e na Cultura. Valham-nos os poderes de que a Democracia investe estes agentes, bem-comportados, presentes e zeladores. O que fazem? Salvo honrosas excepções: nada. Talvez fosse de suspender a Democracia durante uma ou dias Primaveras? Não é uma ideia nova. Mas já o sabemos: a ironia não passa. Tout d'abord, trompe le monde.
# OPINIÃO