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Como podemos educar para o património?


No mês de setembro, tradicionalmente mês de recomeços, aproveitamos para refletir sobre o tema da educação patrimonial, em destaque na plataforma património.pt, e em que medida é que educar para o património pode também ser uma responsabilidade de cada um, em vez de ser apenas responsabilidade do Estado (que esquecemos tantas vezes ser formado por todos nós).

Acabaram-se as férias para quase todos (pelo menos aqueles com filhos em idade escolar) e planeia-se o próximo ano letivo. Atividades extra curriculares, inscrição num desporto, na música… somos tomados por uma espécie de delírio num meio em que a oferta de atividades é vasta e nem sabemos para onde nos virar. Há a tentação de experimentarmos um bocadinho de tudo, construindo uma agenda ocupadíssima, para nós e para os nossos filhos. Deixando-nos depois muitas vezes demasiado estafados para sequer pensarmos em fazer outros programas que impliquem ter de sair do sofá!

Em tempos, quando trabalhava num grande museu, foi feita uma estatística internacional que avaliava o público adulto que, por iniciativa própria, frequentava museus. Chegava-se à conclusão nesse estudo que os adultos frequentadores de museus eram provenientes de famílias que também frequentavam museus. Na altura mãe de filhos pequenos, esta estatística ressoou fundo em mim e motivou a oferta no museu de um programa específico pensado para o público familiar. Ainda hoje em dia, mesmo trabalhando agora num arquivo (que dificilmente será um sítio habitual para passear em família...), nos esforçamos por promover atividades dedicadas às famílias, com esta convicção de que estamos mesmo a investir na formação de novos públicos. Também não esqueço, obviamente, as visitas culturais que fazia em criança e que começavam invariavelmente com o meu pai a ler, ainda dentro do carro, o capítulo dedicado àquele monumento no Guia de Portugal de Raúl Proença de 1940. Se isso hoje em dia era impensável (todos fechados no carro! Com o pai a ler! Um livro já desatualizado!) a verdade é que temos a sorte também de viver tempos de grandes mudanças ao nível tecnológico que nos permitem usufruir de experiências muito mais interativas e interpeladoras quando visitamos os nossos monumentos.

Claro que estas tecnologias também têm os seus perigos… pois se todos já vimos este quadro ou o interior deste palácio num programa de televisão ou no instagram, para que é que temos de ir até lá?... Precisamos de mostrar que não é indiferente ver uma fotografia do quadro ou o próprio quadro. Que há uma indecifrável e indefinida sensação quando nos confrontamos com um documento ou um edifício ou uma obra de arte com mais de 100, 200, 500 anos! A sensação inimitável de sermos mais uma peça no tempo da História, de assistir a um pedaço dessa mesma História, tem a capacidade de nos colocar no nosso pequeníssimo lugar de cuidadores deste património, com a importante responsabilidade de o preservar, divulgar e legar aos que vierem a seguir.

E então, afinal, como é que respondemos à pergunta inicial?! Talvez simplesmente tendo a noção, enquanto pais e educadores, que somos responsáveis por deixar no mundo uma geração de amantes e protetores do nosso património. Era importante marcarmos um tempo na agenda para nos deixarmos deslumbrar com isto.

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