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Afinal para que servem os Serviços Educativos?


Pode parecer uma pergunta óbvia, mas aposto que tem várias respostas diferentes e todas bastante válidas!...

Comecei o meu percurso profissional em Serviços Educativos no final dos anos 90 e foi com algum espanto (mas muita satisfação, claro) que recebi o convite para contribuir para a divulgação do nosso trabalho na plataforma patrimonio.pt! Depois de duvidar da sanidade dos responsáveis por me terem convidado e também da minha capacidade para escrever (estando por defeito profissional muito mais habituada ao discurso oral), acabei por aproveitar a oportunidade para fazer uma pequena reflexão sobre a pertinência e a validade do que fazemos hoje nos Serviços Educativos em instituições culturais, e não só em museus.

É com alegria que partilho alguns pensamentos pessoais, fruto do trabalho desenvolvido ao longo dos anos, que muitas vezes passa despercebido. Sempre me fez alguma confusão este relegar para segundo plano o Serviço Educativo por parte da direção das várias instituições onde fui trabalhando. Claro que temos que entregar planos e relatórios de atividades e não gozamos de independência total, mas esta equipa dificilmente se sente ou é encarada como estratégica para o sucesso da instituição.

Claro que não concordo com esta visão! No primeiro local onde trabalhei nem cheguei a conhecer nenhum responsável, a não ser a pessoa que geria o Serviço Educativo… E mesmo depois, aconteceu-me ser apresentada, em várias ocasiões, pela direção do museu onde trabalhava como aquela que faz umas coisas muito giras com as crianças!... (Só isso??...) Nunca me revi nesta descrição simplista que pode levar-nos a crer que o trabalho que desenvolvemos não é importante. Mas, pelo contrário, até é bastante exigente! O Serviço Educativo, através de imensos projetos diferentes (visitas guiadas, oficinas, conferências, projetos de continuidade…) cria relações entre a instituição e as pessoas de todas as idades que a visitam, projetando e dinamizando o trabalho desenvolvido por toda a equipa.

Claro que é também nossa responsabilidade comunicar a importância do trabalho que desenvolvemos. Mais do que ninguém, temos a noção que quando recebemos um grupo de visitantes, é a nossa cara que vai ficar na memória deles, é a relação que com eles estabelecemos que vai ficar associada ao local que visitaram. E se quase todos os visitantes são recebidos pelo Serviço Educativo… então talvez seja um papel mesmo importante!

Por outro lado, a comunicação também se deve estabelecer internamente, com o resto da equipa. O Serviço Educativo pode e deve participar nas reuniões de preparação das exposições, conhecer os projetos que estão a ser programados, sugerir este ou aquele tema para ser explorado. Muitas vezes as pessoas que trabalham há vários anos nas mesmas instituições têm dificuldade em compreender o modo como são vistas por quem está de fora. No Serviço Educativo, ao estarmos sempre em contacto com quem nos visita pela primeira vez, conseguimos ter uma perspetiva mais abrangente.

Tendo tirado um curso com ‘desempregabilidade’ quase garantida (História da Arte! Onde é que eu estava com a cabeça?!...), ainda enquanto estudava fui sendo assaltada pela angústia da sua inutilidade. Mas também sabia que não podia ter tirado outro curso, foi o que me apaixonou. Para ajudar, sempre recusei a saída mais óbvia: achava que não tinha jeito para ser professora! Por sorte, fui descoberta pelos Serviços Educativos, que trouxeram um sentido mais prático a toda aquela aprendizagem teórica. Finalmente, sentia que podia ajudar a fazer a diferença na vida de muita gente. Bem sei que em Serviços Educativos não estamos a lidar com as necessidades mais básicas da vida das pessoas, não estamos a tirar-lhes a fome, a vesti-las ou a dar-lhes um teto.

Ainda assim, estou convencida que somos essenciais à sua sobrevivência. O que acontece quando recebemos um grupo na nossa instituição, ao encadear com cada pessoa redes de significados inexistentes até aquele momento, pode ser comparado a uma luz que se acende quando escurece ao entardecer, ou ao sol da manhã quando nos bate na cara. Sobrevivemos sem isso, claro, mas com eles a vida pode ser muito mais!… Mais bonita, fazer mais sentido, enfim…

Na minha opinião, é para isto que servem os Serviços Educativos, para nos dar aquele MAIS.

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