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Musing on Culture: de blog a livro - Entrevista a Maria Vlachou


A propósito do lançamento do livro Musing on Culture, a patrimonio.pt preparou uma pequena entrevista à sua autora, Maria Vlachou. Musing on Culture reúne textos seleccionados do blog de mesmo nome criado em 2010. Tendo começado apenas como um espaço de reflexão pessoal, acabou por se tornar numa referência no sector cultural pela pertinência das questões levantadas no âmbito da gestão cultural, dos museus, da comunicação, do marketing, entre outras. A materialização deste espaço online de discussão e reflexão foi o mote para a entrevista que se segue.

Numa realidade crescentemente digital, como encara o lançamento de um livro que reúne uma selecção de textos publicados no seu blog: uma forma de legitimar e compilar ideias ou uma materialização de uma existência virtual, chegando a pessoas que de outra forma não acederiam o seu blog?

Maria Vlachou - Diria que o livro permite organizar e apresentar de uma forma mais estruturada e mais clara a minha reflexão acerca de algumas questões que me são mais caras: as pessoas, a comunicação, o acesso, a gestão das instituições culturais, o lugar da cultura na nossa vida. O blog é ume espécie de organismo vivo, está em constante crescimento. Os textos ficam dispersos, seguem muitas vezes a actualidade, numa semana escreve-se sobre uma coisa e na semana seguinte sobre outra. A selecção de textos que foi feita para o livro cria uma espécie de tronco, convidando, ao mesmo tempo, a uma melhor exploração do blog.

O seu blog atingiu, em três anos, uma enorme visibilidade num sector que por vezes não consegue captar a atenção do público. Acha que esta visibilidade foi potenciada pelo seu formato digital?

MV - Confesso que não vejo as estatísticas do blog (provavelmente deveria…). Assim, não sei dizer se a visibilidade é enorme, no entanto, fico cada vez mais surpreendida com o facto de várias pessoas, algumas desconhecidas, virem falar comigo para me dizer que o lêem e que gostam. Penso que se tornou numa ferramenta útil para algumas pessoas que trabalham neste sector e fico muito contente com isso. Sem dúvida, o facto de se tratar de um suporte digital torna-o mais acessível e facilita a partilha.

Qual o seu balanço destes três anos de actividade como blogger e comentadora do sector cultural? Como tem sido o retorno deste trabalho?

MV - Comecei a escrever por uma necessidade própria. Por um lado, queria partilhar as minhas ideias e preocupações; por outro, escrever e comentar implica estar informado, actualizado, consciente do que se passa no nosso ambiente mais próximo, mas também noutros cantos do mundo. Precisava deste estímulo, porque senti que, em termos gerais, no nosso sector, como também em outros, é-nos exigido pouco: que façamos pouco, que saibamos pouco, que pensemos pouco, que questionemos pouco. Que sejamos simpáticos e medíocres. O blog foi a minha forma de resistência, mesmo que numa escala pequena, a minha. E, graças a ele, encontrei mais pessoas que anseiam para algo mais que a mediocridade. O blog, de alguma forma, juntou à sua volta uma “comunidade”. Fico muito contente quando as pessoas que vêm falar comigo ou que me escrevem afirmam encontrar no blog o mesmo estímulo que eu própria procuro. Só tenho pena que não haja mais profissionais desta área a escrever regularmente e que não haja um debate mais alargado.

Considera que o mundo online de partilha e acessibilidade de conteúdos tem sido aproveitado pelo sector cultural para criar dinâmicas de participação e discussão e dar voz e espaço àqueles que fazem parte deste sector?

MV - Não, acho que não. Tem sido muito pouco aproveitado, por muito poucas pessoas. Estou a falar concretamente da partilha de opinião, da crítica, da promoção do debate. Mas devo dizer que isto depende de cada um de nós. Não existe alguém “superior” para “autorizar” que estes meios sejam usados e que nos dê voz. A voz é nossa, quando queremos, podemos usá-la. Devemos usá-la.

A Comunicação é a sua principal área de trabalho: como tem servido esta experiência enquanto blogger para observar ou testar o comportamento e reacção dos leitores?

MV - Não tinha pensado nisso… Acho que neste contexto abandono o papel do profissional de Comunicação. Não escrevo para testar comportamentos e reacções, no entanto, espero que os meus textos possam influenciar comportamentos e provocar reacções. Talvez a única coisa que tenha feito e que possa ser considerada técnica de Comunicação, foi começar a partilhar os posts no Facebook. Fi-lo precisamente na esperança de provocar mais reacções, uma vez que no Facebook as pessoas conversam mais. Tem havido “likes” mas pouca conversa, mas vou persistir.

Como vê os próximos tempos da área da Cultura, especificamente da área da Museologia, na componente comunicacional, de divulgação, e de aproximação de públicos?

MV - Sinto que não vai haver grandes mudanças, trata-se de uma área que reage com grande lentidão e que, como muitas outras, não gosta da mudança. Há muitas afirmações de dirigentes da área que podem ser consideradas politicamente correctas, mas que raramente as vemos reflectidas na prática. No entanto, há hoje em dia profissionais, colegas, com grande sensibilidade pelas questões de Comunicação e de aproximação aos públicos. Estão a fazer um trabalho excelente, às vezes comovente, não porque alguém lhos pediu, não por se tratar de uma directiva superior, mas porque acreditam que este é o caminho, porque é isto que dá sentido a tudo o resto. Não ficam pelas afirmações politicamente correctas (fáceis e facilmente descartáveis), mas fazem. E fazem em qualquer hora do dia, em qualquer dia da semana. É graças a eles que isto tudo se mantém minimamente de pé, e por isso, sinto um enorme respeito por eles.

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Maria Vlachou (n. 1970, Grécia) trabalha na área de Gestão e Comunicação Cultural. Foi Directora de Comunicação do São Luiz Teatro Municipal e Responsável de Comunicação do Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. De 2011 a 2013, participa no Summer International Fellowship Program em Arts Management do Kennedy Center em Washington, D.C. Desde 2005, Vlachou é membro dos Corpos Gerentes do ICOM Portugal. É também membro fundador do GAM – Grupo para a Acessibilidade nos Museus. Maria Vlachou é Mestre em Museologia (University College London, 1994), com uma tese sobre marketing de museus.

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