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Turismo e Património Cultural – uma combinação provável


Sendo esta a minha primeira participação no projeto património.pt, não posso deixar de fazer uma referência ao meu percurso profissional mais recente.

Quando, há um ano atrás, me lancei no desafio de coordenar uma equipa de Turismo e Património Cultural numa Câmara Municipal, uma ideia ficou, desde logo, bem clara para mim: a formação de base do indivíduo é determinante, mas a capacidade e vontade de “pensar”, “fazer“ e “assumir” projetos com paixão é muito mais importante. E se na equipa existirem técnicos com formação, conhecimento e “vontade de fazer” orientados para a missão e objetivos da organização, então podemos considerar que esta é a combinação adequada. As diferentes perspetivas de cada um proporcionam seguramente uma visão mais completa e integradora, enriquecendo assim o resultado final. E foi com base nesta premissa que assumi o projeto. Embora trabalhe no setor do turismo há mais de doze anos, continuo a considerar que está tudo por aprender. E é esta capacidade e vontade constante para aprender e a imodéstia de considerar que posso contribuir para o desenvolvimento do turismo e para a prossecução de uma política de promoção, preservação e salvaguarda do património cultural do território de intervenção, que orientaram a minha decisão. Com capacidade e disponibilidade para aprender com todos os que me rodeiam, mas também com grande determinação em motivar e envolver a equipa com que trabalho. Ao longo deste percurso estive ligada mais diretamente ao setor empresarial, às áreas do investimento, ao enquadramento legal da atividade turística, aos instrumentos de ordenamento do território, à formação, … Este trajeto ligado ao investimento no setor empresarial turístico que se fez e se está a fazer no território alentejano, acompanhando os promotores na sua longa e nem sempre fácil caminhada do investimento turístico, ajudou a formar conceitos, a desenvolver perspetivas e a ter uma visão global do território. Um princípio pautou este percurso: a assunção de que o sucesso de um projeto passa, sobretudo, pelo respeito pelos valores e cultura do seu povo, pela sua identidade, pelo seu património. Mas ao mesmo tempo pela capacidade para integrar criatividade, tecnologia e contemporaneidade… Direta ou indiretamente, as questões do património cultural estiveram sempre presentes. Afinal, quais os principais recursos turísticos em regiões rurais do interior, senão a autenticidade, os monumentos, os saberes, os sabores, a ruralidade, a paisagem, a natureza, … e as experiências que podemos proporcionar associadas a estes recursos? E isto o que é senão o património, o nosso ativo mais importante? Turismo e Património Cultural: a opção de associar estas duas áreas numa estrutura orgânica municipal parece-me oportuna e estratégica. Sendo o turismo uma atividade económica, só poderá ter êxito se a organização e articulação dos recursos patrimoniais estiver assegurada e puder responder às exigências de um mercado cada vez mais exigente e diferenciado. A articulação entre turismo e património é determinante para a estruturação do produto turístico, e estrategicamente uma opção correta. A conceção de um produto turístico implica o envolvimento de diferentes setores, onde o património assume papel fundamental. Uma visão de integrada e estreita articulação entre o turismo e património, entre setor público e setor privado, são os alicerces desta empreitada que é a construção do produto turístico. Não defendo uma perspetiva mercantilista do património cultural nem tão pouco que seja o turismo ou qualquer outra atividade económica a justificação única para a sua salvaguarda e proteção. Mas, se existem setores que beneficiam desta dinâmica, porque não assumi-los como um dos objetivos das políticas de salvaguarda, valorização e divulgação do património cultural? Servirão interesses distintos mas complementares, salientando contudo que o património não precisa de “muletas” para justificar a sua defesa. No actual contexto de sérias dificuldades económicas e financeiras corremos o risco de ver o património relegado para um plano não visível e com dificuldades de reivindicação. O argumento de que se trata do garante da identidade de um povo seria à partida suficiente para não ter que procurar outros. No entanto, mais do que nunca devemos e podemos assumir, sem tabus, que é através da protecção e valorização do património que se pode alavancar o desenvolvimento e crescimento sustentável de um território, reconhecendo a importância do património para a dinâmica da actividade económica e da criação de riqueza. Também por isso, sim, turismo e património devem caminhar lado a lado.

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