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A opção "venda"


A propósito da venda em leilão da secretária e máquina de escrever utilizada por Fernando Pessoa, muito se tem discutido e escrito sobre o papel do Estado. Deixando de lado a questão da veracidade da utilização destes objectos pelo poeta, supostamente aquando da sua passagem pela Sociedade Portuguesa de Explosivos, que importância tem esta venda para Portugal?

Sempre que vai a leilão alguma peça de interesse para o património nacional, o Estado pode e deve estar atento. Em tempos de crise o orçamento para estas “compras” é cada vez mais reduzido e a escolha deve ser sempre criteriosa e bem fundamentada.

Como é sabido, o Estado tem à sua disposição ferramentas que protegem o património móvel e imóvel, no caso dos bens móveis a maior é o arrolamento, ou seja, a classificação de uma obra como de interesse nacional, mantendo-a em Portugal e dando sempre o direito de opção ao estado em caso de venda .

Esta medida não deve ser tomada de ânimo leve, o Estado não deve nem pode arrolar todas as obras de arte. Tem que as escolher segundo a sua importância artística e histórica, a sua raridade e a sua relevância para o acervo do património nacional.

Foi com base nestes factores que muito provavelmente o Estado “permitiu” a venda destes bens, que foram disputados livremente em praça e acabaram por ser adquiridos pelo brasileiro José Paulo Cavalcanti, autor "Fernando Pessoa: Uma Quase Biografia".

A Casa Fernando Pessoa possui na sua colecção diversos móveis e objectos usados pelo poeta. Não acrescentando em muito o acervo já existente, a compra destas obras não estava claramente na lista das prioridades nacionais. E porque não arrola-las? Não sendo vital para a memória de um país, não sendo únicas, raras ou com grande relevância cultural ou artística, devemos permitir que as obras possam pertencer a particulares, quer sejam nacionais ou estrangeiros. Parece-nos que claramente foi este o caso.

Não nos podemos esquecer que é tão necessário preservar, cuidar e manter a arte e cultura portuguesa no nosso país, como é exportá-la e permitir que seja admirada por outros. A saída não significa necessariamente uma perda, mas antes uma oportunidade da nossa cultura ser estudada e valorizada fora de portas, dando-lhe relevância no panorama internacional. Quem não tem orgulho de ver uma legenda num qualquer museu do mundo dizendo que esta ou aquela peça é portuguesa ou de influência portuguesa?

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