Visitar o centro histórico da cidade de Guimarães é também visitar a história da fundação de Portugal e a emergência da identidade nacional: palco de um imaginário fundador, alimentado por histórias de lutas e conquistas e berço de um novo Reino que em 1143 ali tomava capital.
A história da fundação da cidade remonta ao século X, quando Mumadona Dias manda erguer no sítio de Vimaranes um Mosteiro, com o intuito de nele se recolher após a sua viuvez, construído no local aproximado onde se encontra a actual Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira. Para defesa do Mosteiro e da comunidade então ali integrada, alvo de constantes ataques de mouros e normandos, é construída uma fortaleza defensiva, génese do primitivo Castelo de Guimarães.
Em 1095, Henrique da Borgonha - Conde D. Henrique (1066-1112), estabelece-se no burgo vimaranense juntamente com a sua esposa, Teresa de Leão (1080 – 1130), filha ilegítima do rei Afonso VI de Leão, e concede ao local aquele que viria a ser o primeiro Foral de Guimarães, presumivelmente entre 1095 e 1096. A comitiva que os acompanha fixa-se nas redondezas do Castelo, formando pequenos aglomerados populacionais, cujo crescimento impele a ligação entre si a sua fusão num todo denso, originando assim a histórica cidade.
O primitivo Castelo é também restruturado com a chegada de D. Henrique e D. Teresa, com o intuito de o ampliar e tornar mais resistente, para que os condes ai pudessem fixar residência. Segundo a tradição, terá sido no seu interior que terá nascido D. Afonso Henriques (1109-1185)*, em data incerta que alterna entre fins de 1108 e os primeiros meses de 1109.
Foi perto de Guimarães que a 24 de Junho de 1128 se deu a batalha de São Mamede "in campo Sancte Mametis quod est prope castellum de Vimaranes", um confronto decisivo entre as forças do Conde galego Fernão Peres de Trava e D. Teresa, defensores de uma união com a Galiza e os Barões Portucalenses comandados por D. Afonso Henriques, cuja vitória de revelou um passo decisivo para a independência do Condado Portucalense e consequente fundação da nacionalidade.
Com a independência nacional, Guimarães torna-se a primeira capital do então reino de Portugal. A sua localização estratégica, num ponto de intersecção de rotas do norte do país, assegurava a ligação quer à costa litoral, quer às povoações do interior. Além disso, tirava proveito de várias linhas de água: o rio Ave e seus afluentes (rio Selho e rio Vizela, e as ribeiras de Santa Luzia e da Costa que formavam depois o ribeiro de Couros).
O desenvolvimento do Centro Histórico representa um tipo particular de concepção de cidade, testemunho da evolução da urbanidade de uma localidade medieval para uma cidade moderna, cuja tipologia edificativa mostra o desenvolvimento da arquitectura portuguesa entre os séculos XV e XIX, através do uso continuado de técnicas e materiais de construção tradicionais, nomeadamente taipa de rodízio e taipa de fasquio.
O Largo da Oliveira encontra-se rodeado por um conjunto de construções de valor patrimonial, designadamente: a Igreja Nossa Senhora da Oliveira, as "casas alpendradas" do século XVII, o edificado habitacional erguido com os sistemas construtivos tradicionais, contendo ainda um alpendre gótico com o designado Padrão do Salado.
A Praça de Santiago, rodeada pelo conjunto residencial de maior qualidade artística e ambiental dos séculos XVII e XVIII, é marcada pela presença do edifício da antiga Casa da Câmara, cujo rés-do-chão é constituído por um alpendre apoiado em arcadas góticas, elemento singular de articulação entre a Praça de Santiago e o Largo da Oliveira.
A Rua de Santa Maria, é uma das mais antigas artérias de feição medieval, eixo principal de ligação entre o núcleo do Castelo, situado na cota alta e o núcleo do mosteiro, na parte baixa da vila.
A Rua Nova ou Rua Egas Moniz, que apresenta edifícios de épocas bem diferenciadas, integrando elementos de arquitectura medieval e arquitectura dos séculos XVII a XIX, entre as quais merece destaque a Casa da Rua Nova de raiz medieval, que constitui um dos exemplos tipológicos mais característicos das designadas casas de ressalto.
O Centro Histórico da cidade de Guimarães encerra nas suas ecléticas edificações parte significativa da história do território português. Desde as habitações “terreiras”- casas simples de um só piso, às habitações de um e dois sobrados, das nobres “casas-torre” ao imponente Paço Ducal, a cidade guarda um conjunto arquitectónico de ímpar valor patrimonial datado dos séculos XIII, XIV e XV.
As construções, que preenchem densamente a malha urbana, constituem assim uma herança cultural cuja autenticidade e integridade dos sistemas construtivos, encerra em si um valor singular excepcional, e que levou o centro Histórico a ascender à categoria de Património Mundial em 2001.
A zona de Couros de Guimarães, fora das antigas muralhas e junto ao rio que atravessa a Cidade, numa área outrora conhecida por ser o burgo de Couros, encerra ainda hoje vestígios da longa tradição da manufactura das peles, actividade ali desenvolvida desde a Idade Média.
Ao longo de vários séculos, as matérias-primas dessa indústria foram os couros do gado bovino abatido na região, às quais se juntaram depois as peles oriundas do Brasil e de outras províncias ultramarinas, como Angola e Moçambique.
No século XIX e na primeira metade do século XX, os cortumes de Guimarães conheceram o seu apogeu e a rentabilidade do negócio despertava interesse e investimento diverso, tendo-se tornado numa actividade que muito contribuiu para a projecção económica de Guimarães e para o desenvolvimento de outras actividades como a indústria do calçado.
A partir da década de 1960 a indústria dos couros entra em declínio, sendo a insalubridade que envolvia os processos produtivos, o atraso tecnológico e a transferência de investimentos para a indústria têxtil as principais causas.
Apesar deste contexto só em 2005 encerrou a última fábrica deste conjunto industrial.
*O seu local de nascimento não é certo, sendo que os historiadores dividem-se entre Guimarães, Viseu e Coimbra. Em 1185, D. Afonso Henriques faleceu em Coimbra.
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