Abordar a temática do Património na sala de aula implica sempre um esforço acrescido, uma preparação mais demorada, sobretudo quando o património em causa não se encontra nos manuais, nem a sua exploração é contemplada nas estratégias já elencadas pelos materiais de apoio.
Envolver os alunos em actividades relacionadas com o património é tão ou mais exigente que a preparação das aulas e obriga, na maior parte das vezes, a ultrapassar as paredes de uma sala de aula. Apesar disso sabemos que existem muito boas experiências neste campo, quase sempre relacionadas com o estudo e a educação para as artes. A abrir esta rubrica do nº 1 da patrimonio.pt optámos por sair de nós e espreitar o que se faz lá fora, nomeadamente em França, onde o ensino da História da Arte é obrigatório para todos os alunos desde a escola primária ao colégio e liceu, permitindo o alargamento do conhecimento histórico, artístico e cultural por parte dos alunos e desenvolvendo o sentido estético. Caberá o património na escola? A exploração das diferentes épocas da História da Arte tem, obviamente, no sistema de ensino francês, em linha de conta os níveis de ensino e o grau de desenvolvimento dos alunos. A par disto, o estudo das artes é ainda explorado através de inúmeras actividades que envolvem a participação de outras entidades exteriores à escola, permitindo assim o envolvimento com a comunidade na qual está inserida. Com efeito, existem neste campo algumas experiências bastante curiosas. Com efeito, existem neste campo algumas experiências bastante curiosas. O projecto “Patrimoine, ouvre-toi” é um desses casos. Nascido em 2009, por iniciativa da Vieilles Maisons Françaises (VMF) - uma associação criada em 1958, por Anne de Amodio, e de reconhecida utilidade pública desde 1963. No âmbito da sua acção sobre a salvaguarda e valorização do património edificado e paisagístico, a VMF pretendeu desenvolver um projecto destinado, no ano lectivo 2010/2011, aos alunos do primeiro ciclo (níveis CE2 e CM2), contando com o apoio do Ministério da Educação Nacional e procurando dar a conhecer aos mais novos um conjunto patrimonial normalmente encerrado ao público, pertença de proprietários que integram a referida Associação. Pela sua natureza artística, o projecto conta com objectivos bem definidos: • Levar à descoberta e à visita de monumentos e jardins extraordinários, contribuindo assim para a aprendizagem da História da Arte; • Favorecer o acesso do público escolar a lugares patrimoniais de proximidade mas pouco conhecidos (o mais frequentemente, monumentos aderentes da própria VMF), a fim de incentivar o interesse na protecção e na transmissão deste património; • Desenvolver uma abordagem histórica, artística, cultural e cívica para esta descoberta do património; Esta iniciativa permite uma aproximação entre a criança e o património e desenvolve o seu olhar e sensibilidade sobre os diferentes monumentos, despertando-lhes o gosto e a preocupação pela sua preservação. Mas, afinal, como se alcançam estes objectivos? Em primeiro lugar, as escolas interessadas deverão inscrever-se na iniciativa, através do site www.patrimoineouvretoi.fr, e tomar conhecimento daquilo que é designado por Charte pour une éducation au patrimoine "adopter son patrimoine", e que mais não é do que o enquadramento do projecto e da definição das normas a cumprir. Assim, a iniciativa Patrimoine, ouvre toi desenvolve-se no âmbito do programa de História da Arte, em particular, no conhecimento do património e tem em consideração as competências e objectivos a alcançar pelos alunos do ciclo em causa. Caberá a cada turma ou escola participante escolher o elemento patrimonial a adoptar e a estudar do conjunto de propriedades aderentes. A associação VMF promove o contacto entre as escolas envolvidas no projecto e os proprietários dos edifícios e jardins envolvidos, permitindo que os alunos conheçam aqueles que estão por trás de cada “porta fechada” dos espaços adoptados. Os alunos, orientados pelos professores, deverão desenvolver um percurso cultural que envolva os espaços ou elementos patrimoniais que pretendem adoptar, promovendo o conhecimento desse elemento e, por consequência, do espaço em que o mesmo se insere: a rua, o bairro, a vila, a cidade. A associação VMF disponibiliza uma espécie de guião orientador para a elaboração do percurso, onde se incluem um conjunto de fichas que pretendem explorar o património de acordo com a sua tipologia. No site www.patrimoineouvretoi.fr, é possível ver algumas dessas fichas e ler textos elaborados por alguns dos alunos participantes.
Após o estudo do elemento patrimonial adoptado, é importante que os alunos se tornem actores na defesa e valorização do “seu” património, isto é, é fundamental que a turma sinta que tem uma missão e tal pode ser concretizado de diversas formas, seja através de actividades pontuais em que os alunos se tornam os guias do elemento adoptado, seja através da realização de materiais como o desenhar a sinalética para o edifício. Na verdade, são muitas as possibilidades que podem envolver a Escola e o Património. Parcerias como esta são apenas um exemplo do que pode e deve ser feito, já que a preservação do Património Cultural é também uma competência de cidadania.