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Município de Loulé [Promotor Bienal AR&PA 2019]


Entrevista a Vítor Aleixo (na foto), Presidente da Câmara Municipal de Loulé, promotora da edição de 2019 da Bienal Ibérica de Património Cultural.

Loulé é o maior e mais populoso concelho do Algarve. Qual é para si o papel de Loulé na região do Algarve, no tocante ao património cultural?

Loulé tem vindo a desenvolver um trabalho continuado e consistente na área do património cultural, a vários níveis: investigação, reabilitação urbana e valorização, edição, promoção, educação e comunicação.


Não querendo ser exaustivo dou apenas alguns exemplos concretos da nossa actuação nos níveis indicados acima. Ao nível da investigação, a qual está na base de todo o trabalho desenvolvido na área do património cultural, podemos indicar que estamos a desenvolver investigação arqueológica e histórica, como exemplos destacamos os Banhos Islâmicos, o sítio arqueológico de Loulé Velho ou o estudo sobre a Casa dos Barretos de Quarteira. Importa ainda referir o papel que a revista Al-Ulyã, que comemorou 25 anos o ano passado, tem tido ao longo destas décadas no desafio à investigação e no consequente retorno social e aumento de conhecimento sobre o território. A exposição que esteve patente até Junho no Museu Nacional de Arqueologia, “LOULÉ: territórios, memórias e identidades” resultou de um processo de estudo de bens culturais e sítios arqueológicos – 1500 bens culturais inventariados, 137 sítios arqueológicos relocalizados e 40 artigos científicos produzidos, com um catálogo editado, que revisitou a produção científica das últimas décadas.


Na área da reabilitação urbana, destaco a reabilitação de dois edifícios nobres da cidade e que foram devolvidos à fruição pública: Solar da Música Nova, sede do Conservatório de Música de Loulé Francisco Rosado e da Banda Filarmónica Artistas de Minerva; Palácio Gama Lobo para sede do projecto Loulé Criativo, com as valências do Loulé Design Lab, do Espaço de Conhecimento, Ofício e Artes, Residências Criativas e Turismo Criativo. Quero ainda referir dois projectos em curso: a musealização dos banhos islâmicos (em processo de lançamento de empreitada) e Quarteirão Cultural (em fase de projecto), este último envolve vários edifícios no Centro Histórico de Loulé – Castelo, Convento do Espírito Santo e edifícios adjacentes – e será uma nova âncora de visita ao concelho de Loulé e ao Algarve. Neste espaço, o conhecimento, a ciência, a conservação e restauro vão ser valorizados, através da história que o Museu Municipal vai contar, começando pela história do planeta terra (única no Algarve) e dos laboratórios de paleontologia e arqueologia, que serão visíveis ao público. Este projecto do Quarteirão Cultural concorre de forma significativa para o projecto do aspirante a Geoparque Mundial da UNESCO Loulé-Silves-Albufeira, uma vez que será uma das âncoras que levará os visitantes ao território e à descoberta do local onde se encontrou o Metopossaurus algarvensis, a jazida da Penina.


Ao nível do património imaterial, ligado ao desenvolvimento económico de hoje, criamos uma rede de oficinas – Empreita, Olaria, Caldeireiro, Cordofones e Relojoeiro, no âmbito do projecto Loulé Criativo e que permitem a visita ao Centro Histórico.


Deste brevíssimo resumo que vos dei, pode depreender-se que Loulé tem sido para a região do Algarve um exemplo, uma vez que o património cultural é uma das linhas estratégicas em que se alicerça a nossa ambição de desenvolvimento para o concelho. Trabalhamos o património cultural como factor de competitividade territorial e de diferenciação do destino Algarve.

Qual acredita ser o maior potencial do património cultural deste município, local, regional, nacional e internacionalmente?

Consideramos que o maior potencial do património cultural é, sem dúvida, estar a ser trabalhado como factor de ordenamento, desenvolvimento e atração ao território, trabalhando-o no espírito da Convenção de Faro (assinada em 2005 pelos Ministros da Cultura na Quinta do Lago), a Convenção Quadro sobre o valor do Património Cultural para as Sociedades. Isto significa que o potencial do património cultural louletano é, em nosso entender, muito elevado, uma vez que integra a cadeia de valor para a distinção e competitividade do território, porque trabalhado no presente e alicerçado nas necessidades da vida actual.


Assim, concretamente parece-nos que a mais-valia do património cultural é contribuir para a coesão territorial e a sua dinamização económica, possibilitando a visita da serra ao mar, neste anfiteatro natural, das antas do Ameixial (que estão a ser musealizadas), à aldeia de Alte, ao Castelo de Salir, a Loulé Velho, há histórias milenares que se contam e que possibilitam delinear um trabalho concreto de reforço da identidade e de potenciação de uma economia local alicerçada nos seus recursos patrimoniais – natural e cultural.


Este trabalho envolve uma visão global para o território que está a ser trabalhada com dois projectos que potenciarão a dinamização económica do concelho e o aumento da sua competitividade, falo novamente do projecto da preparação da candidatura a Geoparque Mundial da UNESCO Loulé-Silves-Albufeira e da reabilitação e revitalização do Quarteirão Cultural, projectos que serão diferenciadores na região e que permitirão aumentar a atractividade do território a nível económico e de fixação de pessoas, sobretudo no interior do concelho. Importa referir que estes dois projectos – aspirante a Geoparque Mundial da UNESCO Loulé-Silves-Albufeira e Quarteirão Cultural – têm na sua base sítios de importância mundial e, acreditamos nós, potencial de atracção internacional, falamos da jazida da Penina com o Metopossaurus algarvensis, uma espécie única na ciência com 227 milhões de anos, e para o Quarteirão Cultural os Banhos Islâmicos, os mais completos ao nível da planta na Península Ibérica e únicos no nosso país.

No mesmo sentido, vê a presença de Marrocos na Bienal Ibérica de Património Cultural, como país convidado, como uma oportunidade para Loulé?

Sim, claramente é uma oportunidade para Loulé, para a região e para o país. Aqui quero começar por recordar o desafio que Adriano Moreira e Cláudio Torres me tinham realizado há algum tempo, o de servir de veículo para alargar relações com Marrocos, nomeadamente no âmbito do conhecimento, através de projectos que possibilitem aumentar o conhecimento de um património comum de cinco séculos e que se prolonga até aos dias de hoje, nas nossas memórias e no nosso DNA. Considero que a partir da participação de Marrocos na Bienal Ibérica de Património Cultural, há aqui uma via de trabalho que foi aberta com o fortíssimo empenho do senhor Embaixador de Marrocos em Portugal, Othmane Bahnini, que será continuada nas áreas da história, arqueologia e artesanato, assim o esperamos. Loulé tem um protocolo assinado com o Campo Arqueológico de Mértola, tendo vindo a trabalhar nos últimos quatro anos em torno dos Banhos Islâmicos de Loulé, os únicos conhecidos em Portugal e os que têm a planta mais completa na Península Ibérica. Assim, consideramos que estamos no momento certo para estabelecer com a Universidade do Algarve, o Campo Arqueológico de Mértola e entidades marroquinas projectos de investigação que nos permitam aumentar o conhecimento sobre este património cultural comum, possibilitando que alunos marroquinos possam aqui estudar e alunos portugueses possam deslocar-se a Marrocos para fazer investigação. Diria que, neste momento, a oportunidade existe e por isso cabe-nos a nós saber transformá-la em projectos concretos de cooperação à escala municipal, que nos permitam aumentar o conhecimento mútuo.


O que gostaria de dizer a todos relativamente à importância de virem e participarem na Bienal Ibérica?

Gostaria de dizer que Loulé é uma terra acolhedora, que tem realizado um trabalho continuado, consistente e, esperamos nós, coerente na área do património cultural, entendendo este trabalho como fundamental na visão de futuro que temos para o território. Nesse sentido, a programação da Bienal Ibérica de Património foi desenhada abrangendo as várias áreas de trabalho do património cultural – investigação, conservação, educação, comunicação – para que concorram para a sustentabilidade, tema da Bienal. Isto significa que serão três dias de troca de experiências, de aprender com boas práticas, de perceber o estado da arte no que ao património cultural diz respeito, de pensar fora da caixa e de conhecer profissionais de vários países, potenciando a emergência de novos projectos comuns. Numa frase diria que a importância de participar na Bienal Ibérica de Património Cultural, em Outubro em Loulé, é aumentar competências e contribuir para aumentar a capacidade (de cada um de vós) de colocar o património cultural nas agendas políticas locais, nacionais e internacionais.


Que sementes espera que a Bienal deixe em Loulé e no Algarve?

Espero que deixe três sementes, se me é permitido dizer assim.

Uma para os cerca de mil alunos que participaram na acção educativa de preparação da Bienal, que possam aumentar o seu amor à sua terra e que na sua vida adulta possam perceber e defender a importância da defesa da memória e da construção da identidade alicerçada nos valores patrimoniais.


Aos cidadãos de Loulé e do Algarve que percebam o valor económico e identitário do património cultural, como factor estratégico de diferenciação e de atracção, assim como a necessidade de colocar o património cultural no centro das políticas territoriais.


Aos profissionais do património cultural na região, que partindo da troca de experiências consigam desenvolver projectos diferenciadores e ganhar novos embaixadores para a defesa do património cultural regional, como factor identitário e de futuro. Que saiam fora da caixa e consigam colocar o património cultural nas preocupações dos decisores regionais.


Uma última palavra para todos os que nos visitam, em especial aos profissionais de Marrocos, Espanha, Itália e Áustria [estes três últimos são países fundadores, com Portugal, da rede Herifairs], que sejam uns dias de trocas felizes e de descoberta de Loulé e do Algarve e que possamos criar laços para um trabalho continuado no futuro.


 
Chafariz. Baba Zula (CTP®©)
Chafariz. Baba Zula (CTP®©)

Localizado no centro do Algarve e com uma boa rede de acessibilidades, o Concelho de Loulé, o mais extenso da região, distribui-se por 9 freguesias que se estendem do litoral à serra, oferecendo ao visitante uma variedade de contrastes paisagísticos e culturais.


Antigo centro urbano islâmico, fazendo parte de Portugal desde 1249, a vila recebe foral em 1266 e é elevada a cidade em 1988. Loulé oferece a todos que a visitam um valioso património cultural, a visitar: uma parte do Centro Histórico de Loulé cercado pelas muralhas do Castelo, onde se destacam, o Museu Municipal, a Galeria de Arte do Convento do Espírito Santo, a Igreja Matriz de São Clemente, a Ermida de Nossa Senhora da Conceição e o Mercado Municipal de inspiração árabe. Em todo o Concelho existem ainda diversas igrejas de interesse a visitar, das quais se destacam a Igreja de S. Lourenço, em Almancil, a Igreja de N. Sª da Assunção, em Alte, o Portal Gótico do Convento da Graça e o Portal e Cruzeiro da Igreja da Misericórdia, em Loulé, entre outras. Em Vilamoura destaque para as ruínas romanas do Cerro da Vila.


Loulé, outrora considerada uma das cidades mais ricas em artesanato, tem hoje em desenvolvimento o projecto Loulé Criativo, iniciativa da autarquia que aposta na valorização da identidade do território e que tem como força motriz a criatividade e a inovação, apoiando a formação e actividade de artesãos e profissionais do sector criativo, através da sua rede de oficinas e experiências criativas, para que se revitalizem as artes tradicionais e as possamos incluir na cadeia de valor de desenvolvimento sustentado do ponto de vista económico e social do concelho.



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