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Activação do Património


Andamos tão distraídos com o dia-a-dia digital que nos passa muita coisa ao lado. Literalmente. Quando estamos em espaços públicos sozinhos raras são as vezes em que observamos o que nos rodeia. Responder a um email ou ler uma notícia são mais relevantes do que ver os detalhes dos sítios por onde passamos. Tendo consciência de que o fazia com frequência, tentei corrigir este comportamento. Desde que me libertei da ditadura tecnológica, comecei a reparar nas pequenas coisas (lindas) como a luz de Lisboa, as nuvens sobre o rio Tejo nesta Primavera que mais parece Outono, nas fachadas de azulejos, entre tantos outros encantos!

Um desses encantos foi a arte nas estações de metro. Quantas vezes tinha passado ao lado das obras de grandes artistas portugueses sem reparar nelas? Em Março tive o privilégio de integrar uma das “visitas para (re)viver Lisboa” organizadas pelo Metropolitano de Lisboa. O percurso poderia ter sido feito por qualquer portador de um bilhete válido de transporte mas o conhecimento do guia Guilherme Rodrigues (ex-trabalhador da empresa), fez desta visita um momento muito especial.

O desafio era conhecer a arte de 5 estações de metro: Avenida, S. Sebastião, Olaias, Olivais e Oriente. Começámos pela estação da Avenida onde conhecemos os detalhes do arranque do metropolitano. Lisboa foi a 14a cidade europeia a ter uma rede subterrânea de transportes e é das capitais que mais arte tem nas suas estações (só Estocolmo e S. Petersburgo lhe podem fazer sombra). Vamos ao percurso:

Avenida. Abriu em 1959 e foi projectada pelo Arquitecto Falcão e Cunha. Conta com intervenção artística de Rogério Ribeiro - um trabalho em tons de amarelo, verde-claro e verde-escuro onde formas circulares ligadas por elementos rectilíneos e oblíquos parecem aludir à Casa dos Bicos.

S. Sebastião. Inaugurada em 1959 e ampliada em 2009, foi projectada pelo Arquitecto Keil do Amaral com arte de Maria Keil (parte destruída pelas obras de ampliação). A pintora inspirou-se na natureza que envolve a estação (o Jardim Gulbenkian e o Parque Eduardo VII). Verde, ocre, bege e branco combinam-se em painéis mais figurativos (árvores, pássaros) e não exclusivamente geométricos. As ampliações também contam com Maria Keil que apresenta pela primeira vez peças tridimensionais (azulejos com relevo e laterais coloridas que conferem ilusões de movimento). Importa referir que foi o pioneirismo de Maria Keil (e a sua colaboração na Viúva Lamego) que trouxe o azulejo para a ribalta artística (até então era considerado um material de revestimento pobre).

São Sebastião, Maria Keil

Olaias. Abriu em Maio de 1998, o projecto é do Arquitecto Tomás Taveira e tem intervenções de vários artistas. Destacam-se as obras de Pedro Cabrita Reis, Graça Pereira Coutinho, Rui Sanchez, Pedro Calapez e António Palolo. Este último é também o autor dos azulejos do viaduto sobre o Vale de Chelas. Olaias é a estação com maior volumetria o que permitiu a colocação de colunas monumentais junto ao cais. É uma explosão de cor e exuberância (tanto no cais como no átrio superior) que não passa despercebida: em 2012 foi considerada pela Impact Your World da CNN uma das mais bonitas da Europa; em 2013 o jornal espanhol ABC considerou-a uma das mais espectaculares da Europa e, no mesmo ano, o Huffington Post considerou-a uma das mais “cool”.

Olivais. A estação mais profunda da linha vermelha (36 metros abaixo da superfície). Inaugurada em Novembro de 1998, tem projecto do Arquitecto Rui Cardim, calçada portuguesa e arte de Cecília de Sousa e de Nuno de Siqueira. A intervenção de Siqueira concentra-se no cais de embarque e remete para os feitos portugueses que contribuíram para o desenvolvimento global, materializados na Viagem de Vasco da Gama (cujo centenário se comemorou em 1998). Cecília de Sousa celebra a ruralidade circundante dos Olivais, em particular o Vale do Silêncio e o Palácio da Quinta do Contador (conhecido como A Toca de Maria Eduarda e Carlos da Maia).

Olivais, Cecília de Sousa

Oriente. Inaugurada em Maio de 1998 esta estação conta com projecto do Arquitecto Sanchez Jorge e é uma verdadeira galeria de arte representativa dos 5 continentes. 11 artistas responderam ao tema central da Expo 98: os Oceanos. A maioria das intervenções são em azulejo, excepto a escultura em bronze da polaca Magdalena Abakanowicz. Portugal está representado por Joaquim Rodrigo com a sua derradeira obra “Praia do Vau”, transposta para azulejos por Querubim Lapa (a pedido do autor). Nesta estação podemos ainda encontrar trabalhos de Hundertwasser (Áustria), Errö (Islândia), Sean Scully (Irlanda), Raza (Índia), Za Wou Ki (China), Abdoulaye Konaté (Mali), António Segui (Argentina) e Arthur Boyd (Austrália).

Oriente, Joaquim Rodrigo (Querubim Lapa)

Considerem-se desafiados: descobrir a arte nas estações de metro lisboetas individualmente ou tentar um lugar nas visitas guiadas no âmbito do 70o aniversário do Metropolitano de Lisboa. Cada visita tem um limite máximo de 20 participantes e é necessária inscrição na página da instituição. As estações variam em cada visita e as próximas datas são 28 de Junho e 26 de Julho. Aproveitem!

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