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Património como Testemunho Civilizacional


Correm tempos difíceis, cá, no mundo, com graus de gravidade diferentes. É por isso uma óptima ocasião para levar os miúdos num passeio por alguns elementos patrimoniais cheios de significado político e civilizacional.

Comecemos no lugar onde hoje se encontra o Teatro D. Maria II, palco, desde a primeira metade do século XVI e até 1821, do Palácio da Inquisição. Tribunal eclesiástico, julgou milhares de pessoas somente pelo seu credo religioso, pelo menos mais de mil tendo sido queimadas vivas como pena de condenação. Estes “autos-de-fé” ocorriam no Rossio, defronte do Palácio ou, ainda, no Terreiro do Paço, com o rio Tejo como pano de fundo. Aqui, no coração de Lisboa, numa união do poder secular e religioso, portugueses cometendo maldades humanas medonhas sobre outros portugueses e não só.

Andando para Sul, no sentido do rio, e avançando uns séculos, paramos à porta da Cadeia do Aljube. Hoje, o Museu do Aljube é, não somente um testemunho da vivência de Lisboa remontando ao período árabe - como o nome o indica -, mas é sobretudo um espelho de como a barbárie pode estar dentro de todos e de cada um de nós. Tortura do sono, espancamento, encarceramentos nos ditos “curros”. Neste caso, barbárie especialmente entre portugueses. (Aberto todos os dias das 10H00 às 18H00, exceptuando segundas e feriados).

Seguimos para Oeste, até à Estrela e entramos na casa da democracia consolidada: o Palácio de S. Bento. Sede desde os anos 20 do século XVIII do debate sobre o governo da Nação, recebe, desde a Revolução de 1974 e nestes nossos dias acesos, o parlamento da IIIª República Portuguesa. Espaço privilegiado de representação da vontade dos cidadãos, de debate civilizado entre opiniões e correntes diversas e por vezes, antagónicas, ilustra a maturidade democrática, o primado do respeito pela expressão da opinião do outro que só estádios avançados de sociedade conseguem alcançar. (Visitas guiadas para individuais todos os últimos sábados de cada mês).

Exemplos de como, todos nós, no “caldo perfeito”, podemos deixar a barbárie latente vir ao de cima e instalar-se como se fosse o modo de vida, o acto, o pensamento mais banal e inócuo.

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