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O pó dos museus


Os museus são guardiões de tesouros e memórias. Memórias múltiplas.


Cada obra de arte, objeto ou artefacto confiado a um museu conta não uma única história mas muitas, tantas quantas as pessoas que com ela comunicam e visitam ao longo dos tempos e das vidas.


As memórias próprias das obras e peças misturam-se com as memórias de quem as olha, ou melhor, de quem as vê e neste ver constroem-se novas interpretações, novos conhecimentos e novas memórias.


Os museus não servem apenas para guardar, estudar e divulgar as suas coleções.


Os museus servem para debater, para pensar sobre a atualidade, sobre a contemporaneidade em que nos movimentamos todos os dias no que é a realidade dos nossos dias e onde habitamos o tempo.


© Diana Pereira

Não são espaços decorativos, agradáveis e que cumprem uma função estética. São espaços de vivências, de experiências, de significação.


Através dos diálogos que estabelecemos nestes espaços, com a arte, objetos e outros, damos passos de gigante, saímos fora da caixa, superamo-nos a nós próprios, projetamos ideais, criamos novos mundos. Podemos sonhar, projetar, idealizar, contestar.


Os museus não são espaços neutros, acríticos e sépticos, são antes espaços vivos, turbilhões em potência, à espera que lhes sacudam o pó.


De cada vez que alguém entra num museu inicia-se a potencialidade de novas relações, de novos pontos de chegada, novas interpretações e imensos momentos de espanto.


O espólio de um museu pode falar das nossas preocupações de hoje, mesmo que tenha sido produzido há séculos ou mesmo milénios atrás. Podemos, a partir deste espaço dilatado e intemporal colocar perguntas, que acordam mecanismos interpretativos e nos abrem a novos paradigmas.


Os museus têm um papel cívico e político a desempenhar no hoje e no agora. Possibilitando-nos debater assuntos prementes como a sustentabilidade, as questões de género, a interculturalidade, os direitos humanos e muitas outras áreas da cidadania.


Permitem-nos através de pinturas, objetos, esculturas… abordar os nossos lugares, entender onde desenhamos as fronteiras entre o eu e o nós, entre o nós e os outros, entre o que se vê e o que não se vê, o que pertence e o que se exclui, de forma crítica, construtiva, consciente e transformadora.


Nos museus encontramo-nos connosco próprios e com os outros, com as diferentes interpretações da humanidade sobre si mesma, com reflexos de diferentes sociedades, com culturas distintas, com a condição humana, com a multiplicidade e a diversidade…


Encontramo-nos frente a frente com toda esta força e potencial de diálogo, no qual colocamos o que trazemos mas também o que somos, o que sonhamos, o que tememos.


Vamos habitar os museus como espaços vivos de encontros, de diálogo, de inclusão, um potencial chão comum, territórios de exploração do mundo, de construção de conhecimentos, geradores de sonhos, ideias e ideais e potenciadores de vidas.


Estamos no tempo de sacudir o pó e tornar os museus um espaço significativo no quotidiano de todos, espaço de vivências e experiências, polifónico, poliglota, aberto e disponível para combater a indiferença e desenhar espaços de relevância para o século XXI.


© Pedro Pina

 

A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico.


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