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Caminhos Portugueses de Peregrinação a Santiago de Compostela


São várias as lendas que nos contam a história do Apóstolo Tiago Maior, que dedicou a sua vida a disseminar os ensinamentos e mensagens de Jesus Cristo pela Europa, numa jornada que o terá inclusivamente trazido até à Península Ibérica. Uma das lendas conta-nos que, regressado à Palestina, é condenado à morte pelo Rei Herodes Agripa, acusado de difundir ideias falsas. O seu corpo terá então sido resgatado por Teodoro e Atanásio, seus discípulos, que em fuga numa embarcação, terão sido salvos por um Anjo que os guiou através do Mediterrâneo, até Padrón, na Galiza. Sob domínio romano na época, Padrón era governado pela Rainha Lupa. Convertida ao Cristianismo pelos dois discípulos de Tiago, esta concedeu-lhes um local digno para sepultarem o corpo do Apóstolo. Intitulado Liberum Donum ou Libre-Don, corresponde à actual cidade de Santiago, onde os dois discípulos assentaram vida, protegendo e venerando o túmulo de Tiago. A mensagem que o túmulo do Apóstolo se encontrava na Galiza rapidamente se espalhou, iniciando-se assim um período de peregrinação ao local onde se dizia estarem os restos mortais de Tiago.

Quando o imperador Vespasiano chega ao poder, proíbe várias práticas cristãs, entre as quais a veneração ao túmulo de Tiago, acabando a localização do seu sepulcro por cair no esquecimento. Terá sido durante o reinado de Afonso II de Espanha que o local é alegadamente (re)descoberto, um acontecimento de máxima importância não apenas para a religião católica mas para a Europa e territórios ainda instáveis da Península Ibérica. Afonso II ordena então a construção de uma Igreja no local das ruínas, impulsionando o desenvolvimento do local e o consequente crescimento de um povoamento em seu redor, apelidado de Santiago do Campo das Estrelas ou, como é hoje conhecido, Santiago de Compostela.

As primeiras construções acabaram por se revelar demasiado pequenas, e sob impulso do Rei Afonso VI, iniciaram-se as obras para construir uma grande Catedral, pensada como uma igreja de peregrinação, com capacidade para receber um grande número de pessoas. A Igreja é composta por um plano de cruz latina, com um transepto, uma cabeceira com ambulatório e uma galeria ao redor da abside através da qual os fiéis podem caminhar. As portas laterais do transepto permitem a entrada e a saída dos fiéis que cruzam o ambulatório até chegarem ao túmulo de Santiago, localizado numa cripta sob o altar principal. Tanto o corpo central da Igreja como o transepto são compostos por três naves para favorecer o fluxo incessante de peregrinos.

No século XI, a construção da Catedral incentiva o desenvolvimento do culto a Tiago, atraindo novamente peregrinos que criam novos caminhos e delineiam diferentes itinerários (principais e secundários) de acesso ao local de Santiago, oriundos das mais diversas proveniências. São esses diversos caminhos e rotas que constituem, no seu todo, o “Caminho”.

Santiago tornou-se assim, durante a Idade Média, a zona mais celebrada de todo o noroeste peninsular, apresentando uma estrutura espiritual que concorria com as principais cidades cristãs, como Roma e Jerusalém. Os “Caminhos” de Santiago foram celebrados e cantados na literatura, e por ele circularam alguns dos nomes mais importantes da história mundial. Ainda hoje, movidos pela fé, são milhares os que se deslocam a pé, percorrendo os “Caminhos” que os levam até Santiago.

Em Portugal, a história das peregrinações a Santiago pode ser dividida em quatro épocas: antes da Nacionalidade, depois da Nacionalidade, Idade Moderna e Actualidade. Na verdade, a devoção ao Santo existe no nosso país há muitos séculos, sendo este Apóstolo considerado o Patrono da Reconquista. Pensa-se que a primeira peregrinação terá sido realizada por Fernando Magno em 1064, e no século XII, com a independência nacional, as peregrinações começam a intensificar-se, assumindo particular relevo a estrada Porto/Barcelos/Ponte de Lima/ Valença, onde acabam por confluir quase todos os demais percursos.

Actualmente, o Caminho Português é constituído por várias vias, sendo que a mais longa é a que parte de Lagos, no Algarve, ainda que o principal ponto de partida se encontre no Porto. À riqueza espiritual do percurso cruza-se a riqueza histórica e paisagística, com a passagem por florestas, bosques, terras agrícolas, aldeias, vilas, cidades históricas e ainda capelas, igrejas e conventos, testemunhos de um fluxo de pessoas que povoam e fortaleceram os laços de intercâmbio cultural, económico e ideológico.

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