“Há mais arqueologia além do Orçamento”
- patrimoniopt
- 10 de mar.
- 5 min de leitura

Os tempos que se vivem na cultura já foram mais benignos e, dentro desta, no que respeita ao património cultural, também. Isto se pensarmos a partir da matriz da calculadora, do somar e do sumir, extraído desse instrumento (entre o documento técnico e o texto ficcional), que é o Orçamento de Estado e, após, analisando o filho segundo, que é o Relatório, que teoricamente registará a sua efetiva execução. A cisão da DGPC, entre PC-IP e MMP-EP, é ainda uma dúvida e uma interrogação, um sucesso incerto. Tendemos, amiudamente, a centrar-nos no exame financeiro, que pese embora meritório, pelo escrutínio que exerce na análise do papel do Estado perante o património cultural, é, todavia, parcial, face ao fenómeno em si.
A análise deste fenómeno, em boa verdade, terá sempre de assentar, para se tornar verosímil, na observação dinâmica de um triângulo explicativo, sendo que nos seus vértices estão, de um lado, os decisores/políticos (gestores da coisa pública), noutro os investigadores/operários do património e as instituições da memória (fazedores e zeladores do património cultural, propriedade da coisa pública) e, finalm ente, no derradeiro, os cidadãos/sociedade civil mais ou menos organizados (a coisa pública propriamente dita). O equilíbrio de forças e as dinâmicas entre os vértices, determina o sucesso deste recurso cultural limitado. Os lados desse triângulo correspondem, portanto,às relações biunívocas entre os vértices. As áreas de interceção centrais, aos pontos de contacto entre todos. Quando sopesados todos estes e as suas circunstâncias, torna-se mais fácil de compreender o fenómeno social da identidade (que não cabe numa análise SWOT ou FOFA, que anda tão em voga). Numa sociedade saudavelmente democrática, este seria de tipo equilátero.
Os tempos, porém, não andam dados a fofices, pelo que não é de admirar alguns desabafos e alertas que têm surgido, mesmo de gentes naturalmente reservadas e contidas em publicamente partilhar as suas opiniões.Centrando-nos na arqueologia, que é o que hoje por cá nos traz, tal realidade é particularmente notada. E mesmo sem partilhar por inteiro a visão capitalista-apocalíptica de Laurent Olivier, com o “Notre passé n’est pas à vendre”, de 2023, de inquestionável sucesso europeu, há que lhe reconhecer razão em muitos dos pontos que apontou. E, perante o geral pessimismo que sobre nós paira, que se assemelha a céu muito nublado, com eventual ocorrência de aguaceiros, nada como salientar pequenos episódios que vão por aí ocorrendo, manifestamente contrariando o estado de espírito que se nos tomou.
É que, conforme a Jorge Sampaio, “Há mais vida além do Orçamento”, como o disse em 2003, no discurso das comemorações do 25 de abril, na Assembleia da República; não é menos verdade que “Há mais arqueologia além do Orçamento”. Com isto não queremos dizer que se ultrapassem e negligenciem as omissões do Estado perante o património cultural e o património cultural arqueológico, mas, simplesmente, que nem tudo se reduz ao papel do Estado para o bem-estar de uma área que se dedica à rememoração contra o esquecimento, ou melhor, a contrabandear a água do rio Lete, para a colocar no caudal do rio Mnemósine, função social de fulcral relevância na prevenção da amnésia social.
E, na senda do luminoso ensinamento de como se deve viver a vida, de Roberto Benigni, permitir-me-ão salientar algumas coisas bonitas que acontecem nestes nossos dias e que, como raios solares, fendem as nuvens e semeiam a esperança, diligenciando caminho. Naturalmente,começarei pelo processo participativo do Museu Nacional de Arqueologia. É exemplar! Um museu que se encontra fechado ao público, em boa verdade, mas que está aberto como nunca se o viu. E, acima de tudo, absolutamente transparente, através da comunicação nas redes sociais. Todos os que se interessam, podem saber o que se está a passar, pois que se pode ir acompanhando, em tempo real, relativamente ao que ocorre ao emblemático símbolo da união dos arqueológos portugueses, férrea expressão da vontade do pai fundador. Tal sucede, apenas, porque a equipa assim o quer dar a saber. E bem. A 30 de janeiro de 2025, realizou-se a escuta externa do programa museológico. Programa museológico esse que é raridade no panorama nacional (é obrigatório nalgumas partes do país vizinho, mas por cá…) e foi alvo de escrutínio nuncavisto, mercê da pública escuta externa. E, não bastando, continua a fazer caminho, em sessões públicas pelo país, onde se convidam os profissionais e os demais cidadãos, a refletir ativamente sobre o que deve ser um museu nacional, de arqueologia, para o século XXI e XXII. É de elementar justiça parabenizar António Carvalho, seu diretor, pois que em tempos de chumbo, obrou um milagre, em que todos o constroem.
Em simultâneo, num momento não particularmente propício da arqueologia subaquática, como já antes o escrevi, surge um projeto insano de partilha de conhecimento, posto em prática por Alexandre Monteiro. No âmbito do projeto participativo “Um mergulho naHistória” (Projeto OPP n.º 466 do Orçamento Participativo de Portugal, de 2018), que feneceu nos seus pressupostos iniciais, mas que continua ad hoc, nasceu “Um naufrágio por dia”, acrescentamos nós, não sabe o bem que lhe faria. Todos os dias, mas mesmo todos, Alexandre Monteiro, tem-nos presenteado desde dia 1 de janeiro com uma micro-história de caso, ocorrida nas costas continental, açoriana ou madeirense, partilhada através das redes sociais, para quem quiser conhecer o extraordinário potencial da arqueologia subaquática em Portugal. Realiza-o porque sim, num compromisso pessoal do investigador para o cidadão, estando a obter um impacto assinalável, que contraria completamente a indiferença e apatia, que tantos, incluindo eu mesmo, julgávamos reinante.
E, como não há duas, sem três, partilho-vos que, na longínqua cidade de Angra do Heroísmo (localizada a 1550 quilómetros a poente de Lisboa, no arquipélago dos Açores), ocorrem mensalmente, numa livraria-café – propriedade e sonho bonito da Marta Cruz e do Joel Neto– desde setembro de 2024, as “Conversas com a arqueologia”, tertúlia de divulgação dos trabalhos que decorrem nesta área, em contacto direto com os cidadãos. À escala, são amplamente participadas pelos cidadãos, uns despertados pela curiosidade, outros pela intelectualidade e, até alguns por razões profissionais, caso dos guias turísticos, que procuraram enriquecer as suas narrativas. E é de espantar ter casas cheias, nalguns casos mesmo com gentes de pé por carência de mais lugares sentados, simplesmente para assistir à arqueologia nas ilhas de bruma, tendo todo o espaço para intervenção direta junto dos seus protagonistas. E, no que já se tornou o pregão das mesmas, “toma parte na mudança que queres e desejas para ti e para as tuas ilhas. Pois bem, ficam feitos o repto eo convite. Participa.”.
Todos estes exemplos demonstram, com intensidades e raios de ação distintos, as relações entre os dois vérticesmais negligenciados nas análises do fenómeno do património cultural arqueológico mas, que, a resultarem, contribuirão mensuravelmente para alterar as dinâmicas entre os três. “Há mais arqueologia além do Orçamento”, desde que ousemos construí-la. “Notre passé n’est pas à vendre”.
_______ O autor utiliza o novo acordo ortográfico.






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