Aproximamo-nos rapidamente do final do ano e parece sempre que este passa a correr. Ainda ontem me pediram para colaborar com a plataforma património.pt e este já é o 4º texto que aqui escrevo!
Na atividade de mediadores ou educadores culturais, como noutras, é claro, as rotinas diárias são normalmente aceleradas e muitas vezes temos dificuldade em parar. Há sempre grupos para receber ou escolas para visitar, é muito raro ficarmos um dia sentados à secretária. Eu adoro o que faço e não quereria que fosse diferente, mas por vezes a vida corre depressa demais e nem sempre há tempo para refletir: para onde vamos? Estamos a caminhar bem? É isto que queremos transmitir? Ou podemos fazer melhor?
O problema é que não somos só nós adultos os apressados, os alunos de hoje em dia andam também eles sempre numa pressa. Esta reflexão vem a propósito de um episódio que aconteceu há poucos dias, quando recebemos um grupo de alunos que veio da escola visitar o arquivo. A atividade estava marcada desde o início do ano letivo e a duração prevista era de cerca de uma hora. Mas, quando chegaram a professora avisou que só tinham meia hora para ficar no arquivo, precisavam de voltar depressa para a escola porque era dia de natação, ou futebol, ginástica, inglês… O que dizer? Estamos perante um grupo de 26 alunos que saíram da escola de propósito para nos visitar e que não têm culpa, mas a nossa vontade era mandá-los voltar noutro dia!…
Outras vezes, acontece sairmos para ir a uma escola, e quando lá chegamos já falta pouco para tocar, a seguir vem o professor de música, temos que nos despachar, não há tempo para contar a história toda, depressa, depressa.
Temos que nos questionar: vale a pena trabalhar assim? Porquê? Para quê?... Vamos fazendo o melhor que podemos com o tempo que nos é dado, mas se queremos ter alunos (ou filhos) que não sejam autómatos, é importante dar-lhes tempo para cimentar aprendizagens, experiências. É preciso tempo para descobrirmos quem somos, para identificarmos e expressarmos sentimentos, nos ligarmos aos outros, sentir compaixão. É preciso tempo para apreciar o valor único que o património tem para nos ensinar.
Conseguimos observar com interesse e calma fotografias de arquivo, conversar sobre elas, deixar que nos interpelem, questioná-las, relacioná-las com a nossa própria experiência, em meia hora? Precisamos também de tempo para nos sentirmos à vontade e confortáveis num ambiente que não é o nosso e, em meia hora, nem sequer começamos a conhecer-nos uns aos outros! Resultado: a visita fez-se, os alunos até gostaram, mas foi uma correria tal que quase aposto que já não se lembram de nada! Eu, pelo contrário, tão cedo não me vou esquecer… e vou tentar não repetir.
Já agora, não tenho nada contra a natação, o inglês, a música, são obviamente competências importantes e merecem o nosso interesse e o nosso tempo; mas o mundo não se esgota aí!
# OPINIÃO