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Bem Público-Valor Público - A educação para os valores ambientais no Museu da Água da EPAL


O museu como detentor do conhecimento e guardião do património, na sua acepção mais tradicional, muitas vezes gera conflitos internos, de índole organizativa, em relação à sua função educativa primordial. Assim, dentro da dinâmica da lei da oferta e da procura cultural, temos a procura do conhecimento pela escola em busca de um complemento educativo (não formal) para os seus alunos, por um lado, e, por outro, as instituições culturais com um acervo e património cultural à disposição da comunidade. Mas devemos ir além desta perspectiva, como refere Lynn Dierking1, e o museu deve responsabilizar-se socialmente, pois trata-se aqui também de uma questão de sobrevivência dos próprios museus. Esta acção educativa vai além do papel tradicional de divulgação e conservação do património, sendo o Museu um potencial agente de mudança e de educador para os valores.

Obviamente que a cultura, a família, a religião e no geral, a sociedade onde o indivíduo está inserido, são todos agentes influenciadores dos valores. E, ao ensinar valores, nada nos garante que irão passar da teoria à prática, ou seja, a atitudes concretas de actuação. Para que tal possa acontecer é necessário que sejam vividos e fundamentados numa ética de conhecimento, de modo a que, a criança de hoje, o adulto de amanhã, possa um dia gerir positivamente os conflitos entre os seus valores (para um bem comum) e o seu natural egotismo (Halstead, 1996) (2).

Acreditamos que esse é o papel da educação e que o museu tem uma palavra a dizer sobre esta matéria. O museu deverá construir a sua oferta educativa em torno do seu acervo mas também sobre os valores que pretendem educar. O museu é e deverá ser sempre um veículo de construção da identidade do indivíduo, defendendo a sua missão (educadora) e divulgar publicamente os valores que pretende transmitir aos seus públicos.

No caso do Museu da Água, os valores da instituição estão inscritos nos objectivos do serviço pedagógico do museu e em consonância com a política ambiental da Empresa Portuguesa das Águas Livres (EPAL). É, neste aspecto, um dos poucos museus em Portugal a divulgar estes valores (patrimoniais e ambientais) e a vê-los inseridos na sua missão educativa. Ao prestar um serviço público, torna-se importante avaliar e validar o trabalho realizado pelos serviços educativos, no sentido de comparar e divulgar informação sobre as actividades dinamizadas em vários museus, de forma a detectar até que ponto o trabalho realizado nestas instituições tem impacto social.

A presente dissertação de Mestrado incide no estudo de caso do Serviço Pedagógico das Águas Livres e mais concretamente sobre os trabalhos produzidos em contexto escolar no âmbito do Concurso Anual do Museu. Através da análise sistemática aos trabalhos de crianças do 1º e do 2º ciclo do ensino básico foram reveladas preocupações ambientais relativamente à poluição e ao uso eficiente da água, as quais apresentam as seguintes atitudes ambientais: biocêntrica (água como um bem essencial à vida) e antropocêntrica (perspectiva utilitária para o Homem), indicadores importantes para o programa de actividades.

Se é difícil compreender o real impacto do poder do museu, sabe-se, quer na educação artística, quer na ambiental, que a experiência e o conhecimento são estruturantes para uma visão mais completa do Mundo, para uma cidadania mais inclusiva e participativa.

1 Dierking, Lynn D. (2000), “Being of value – intentionally fostering and documenting public value” in Journal of Museum Education, Vol. 35, Nr.1, 2010, pp.9-20

2 Halstaed, J. Mark (1996), Values in Education and Education in Values, Palmer press, London, Washington D.C.

Fotografias de actividades realizadas no Museu da Água

Exemplo de quatro dos trabalhos analisados.

 

Margarida Filipe Ramos

Mestre em Educação Artística pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e licenciada em Relações Públicas e Publicidade pelo Instituto de Novas Profissões. Ingressou em1998 nos quadros da EPAL-Empresa Portuguesa das Águas Livres, S.A., onde desempenhou várias funções no Departamento de Comunicação Externa do Gabinete de Imagem e Comunicação. Desde 2001, desempenha funções no Museu da Água da EPAL, sendo responsável pela dinamização e a coordenação do Serviço Pedagógico Águas Livres, dirigido à comunidade escolar.

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