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Rotas do Património e Empresas de Animação Turística


Nestes últimos tempos, tenho-me colocado várias vezes a questão: será que as Rotas do Património actualmente existentes estão a ser devidamente utilizadas pelas Empresas de Animação Turística (EAT)? Existe, por parte destas empresas, a consciência plena do benefício que poderão colher de um esforço que, antes de mais, tem como objectivo desenvolver produtos estruturantes da oferta turística de uma Região e promovê-la enquanto Destino?

Coloco a questão porque, durante muitos anos, considerei que os projectos de Rotas do Património, sobretudo quando me apareciam como itinerários organizados, interpretados, com guias incluídos, parcerias já feitas com restaurantes, transporte definido, etc., tomariam inevitavelmente a forma de um produto “chave na mão” que poderia ser muito interessante para agências de viagens e turismo mas teria um interesse muito relativo para as EAT. Porquê? Porque as EAT são empresas que se situam do lado da criação do produto. Afirmam-se no mercado fundamentalmente como entidades detentoras de um produto próprio que as diferencia e não como entidades agenciadoras e revendedoras de produtos de terceiros.

Curiosamente, o que me fez mudar de ideias foi a reflexão a posteriori que acabei por fazer sobre a primeira rota estruturada da Região de Évora de que tive notícia – a Rota do Megalitismo – e que tanto jeito me deu logo no início da minha vida empresarial. Não tinha nada a ver com o que hoje se considera uma Rota estruturada. Estávamos em 1992/93. Esta Rota era servida por uma óptima brochura de apoio - coordenada por António Carlos Silva, um arqueólogo dotado de uma invulgar capacidade de interpretar o património num registo turístico perfeito - e estava implementada no terreno de uma forma sui generis: os monumentos tinham uma sinalização insuficiente e mantinham-se no seu posto como sempre, mais mato menos mato, com melhor ou pior acesso, para utilização livre por quem os conseguisse encontrar e, em alguns casos, fazer os necessários acordos de visita com os proprietários dos terrenos onde estavam implantados.

Exactamente o que me convinha: uma matéria-prima tratada - leia-se identificada, cartografada e interpretada - que podia ser utilizada no âmbito do meu projecto de descoberta do Património em todo o terreno, sem me forçar a uma outra lógica que não fosse a minha.

Mais tarde, começou a estruturar-se a Rota dos Vinhos do Alentejo, esta já com uma entidade gestora e prestadora de serviços de marcação de visitas a adegas. Como uma Rota de Vinhos não se compromete na sua essência se for entendida como um conjunto de lugares avulsos, integrei-a sem problemas sempre que foi necessário. Até aqui, nada de novo e nada a questionar.

As dúvidas sobre a relação Rotas / Animação Turística surgiram quando me perguntei se seria identicamente simples a utilização de elementos de rotas como a do Fresco, do Românico ou, actualizando a pergunta, da nossa novíssima alentejana “Rota Tons do Mármore”.

Fotografias Rota do Fresco

Comecei por pensar que não, como talvez pensem muitas EAT que não ponderam utilizá-las. Mas acabei por concluir que as diferenças entre a minha ancestral Rota do Megalitismo e as rotas dos dias de hoje só jogam a nosso favor.

Nada como pôr a coisa em termos práticos e concretos. Se uma EAT quiser revender um dos programas da Rota do Fresco ou do Românico, por exemplo, penso que seja fácil fazer a operação porque as regras do jogo são claras: basta estabelecer o modelo do negócio com quem de direito. Se quiser utilizar uma destas Rotas à medida do seu projecto, está também previsto que o possa negociar. E se, pura e simplesmente, quiser introduzir num programa seu a visita de um monumento que, sendo público ou privado, faz parte desta Rota e costuma estar fechado, das duas uma: ou resolve por sua conta e risco o assunto da abertura do monumento naquele dia e se encarrega da sua interpretação; ou, se concluir que lhe será muito mais fácil recorrer a quem gere a Rota e que a visita ganha em qualidade se for feita por alguém formado para a guiar, opta por esta última via. Em suma, as possibilidades são múltiplas como também hoje são múltiplos, mercê do desenvolvimento do sector, os posicionamentos das EAT no que respeita à criação de produto.

Fotografia Rota do Românico

(imagem retirada de http://www.rotadoromanico.com/vpt/visitearota/experienciasnoromanico/paginas/experienciasnoromanico.aspx)

Assim sendo, a boa utilização pelas EAT destas e de outras rotas similares que venham a estruturar-se, depende: do lado das EAT, da compreensão dos benefícios que delas podem tirar e das regras que devem respeitar; do lado das entidades gestoras, da compreensão que a lógica de funcionamento de uma EAT é diferente da lógica de comercialização de uma agência de viagens e, aspecto muito importante, que a sua perspectiva pode corresponder a formas de utilização das rotas que estavam completamente ausentes do pensamento de quem as criou.

A relação Rotas do Património / EAT tem, a meu ver, um enorme potencial. O seu êxito decorrerá naturalmente do respeito mútuo e da maleabilidade de ambas as partes mas também, por parte da entidade gestora, da capacidade de agilizar processos tornando simples e rápido todo o processo negocial.

Atelier de Pão - Rota do Fresco

Esta capacidade, por sua vez, implica dois pressupostos: autonomia numa gestão assente em regras claras e um conhecimento vivenciado da lógica do sector privado. O que nos leva a outra questão que está a montante desta e que sinto cada vez mais necessidade de ver discutida, quer ao nível do património construído quer do património natural: a quem deve ser entregue esta gestão, com que regras e com que obrigações.

Num momento em que a temática da estruturação turística dos territórios está na agenda de todas as ERT, creio que será útil colocá-la, nas suas várias componentes, na praça pública.

Na óptica empresarial, e sem prejuízo de outras opiniões que possam surgir entretanto sobre a matéria, será este o tema de reflexão da minha próxima intervenção.

Fotografias Rota Tons de Mármore (imagens retiradas de http://www.visitalentejo.pt/pt/rota-tons-de-marmore/rotas/)

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